22 de maio de 2009

COMO GOSTAVA DE TER ESCRITO ISTO

“A professora parece-me maluca. Isso, em si, não quer dizer grande coisa: alguns dos melhores professores que tive eram tidos como malucos. Admito, ainda, que pela conversa da professora ela seja do tipo em que seria aconselhável não frequentar garotos de 12 anos. Sobre ela, nada mais digo. Agora, esse escândalo levanta uma outra questão. No meu tempo, nós, os miúdos de 12 anos, comentávamos, entre nós, os professores malucos (as professoras malucas, também, mas, essas, era mais as pernas). Não se levavam as maluquices dos nossos professores aos pais e, muito menos, à rua e jornais. Nem estou a ver nenhum dos pais a pedir a um de nós: "Saquem-lhe [ao professor maluco] uma maluquice que sirva de prova..." Foi bom ter vivido os meus 12 anos antes da popularização do gravador, fiquei sem memória de experiência de espião a soldo. Vão dizer-me que a gravação da professora de Espinho vai permitir que ela deixe de dar aulas e que isso é bom. Tudo bem. Mas eu digo-vos que é melhor ainda que, aos 12 anos, eu não tenha tido quem me fizesse espião a soldo”.

Ferreira Fernandes em “Diário de Notícias”, 20 de Maio de 2009

9 comentários:

Luisa disse...

É pena que esta mãe não tenha pensado no que estava a transformar a filha

Tareca disse...

bem certo. Mas nao esquecamos a falta de etica, nao é? Em aula, como em tudo.. ha abordagens e abordagens.. E nao posto este comentario na condicao de mae, que me assiste tambem, mas na de professora... Por certo nessa mesma altura, referida por quem a frequentou, no comentario que aqui estamos a criticar, os professores tambem nao teriam a postura que a referida doutora teve.. seja la perante que faixa etaria for. Nao é? Haja moral.. por amor da Santa.

Tareca disse...

e talvez os miudos se estivessem a tentar salvaguardar da forma mais eficaz para o efeito.. A doutora descompensou claramente. Que saudades dos metodos antigos.. em sala minha nao entra por exemplo um telemovel. Nem niguem se interrompe. E de minha parte, cumpro com o exercicio que me leva a estar ali, sem nunca exercer metodos maquiavelicos de chantagem e abordagens de foro pessoal com ninguem. Para receber temos tambem de dar, e a sala de aula é sem duvida alguma um local de partilha. Agora quanto aos miudos, se foram bufos.. nao sei.. alguem tras preparado de casa uma forma ideal de se lidar com uma mente insane? Estas criancas tem doze anos. Protegeram-se. Mas nao deixei de achar um piadao aos apontamentos e teor do comentario em questao (tambem gabava os olhos de um prof que tive ja no ISPA... mas nunca ele me perguntou quando eu havia perdido a virgindade ou detalhes de tal episodeo..).

Tareca disse...

ainda sobre a prof.: eu dou ingles empresarial a uma insituicao bancaria. Tenho gerentes de multiplos balcoes nas minhas aulas, individuos entre os 30 e qualquer coisa, ate aos 50.. e citando o comentario em questao ''Admito, ainda, que pela conversa da professora ela seja do tipo em que seria aconselhável não frequentar garotos de 12 anos'', havera entao alguma adequacao possivel? Ou no meu caso pessoal , por estar a dar estas aulas, e tratando-se naturalmente duma pratica de ambito andragogico (foco-o no sentido de V pedagogico).. se tornaria entao adequado?! A Sra.Dra precisa sim de se ausentar por uns tempos.. aconselha-se terapia, nao querendo com isto estar a diagnosticar uma patologia. Atencao. Todos temos altos e baixos, como é vulgar ouvir-se. Mas isso ja é outra conversa. Agora sala de aula.. eu digo nao.

ruinzolas disse...

O que eu acho mais importante no meio disto tudo, é termos miúdos de 12 anos com perfeita noção das diferenças entre o certo e o errado.
Ver a diferença entre uma "professora maluca" e as "maluquices de uma professora".
Fico muito contente ao sentir que miúdos foram capazes de provar, sem margem para dúvidas, aquilo que andavam a dizer há "séculos" sem que ninguém acreditasse neles. Afinal, quem iria duvidar dos méritos de uma professora com tanto ano de estudo, tanto ano de faculdade, de mestrado e graduações e etc.

Espiões ou não os miúdos encontraram maneira de realizar o seu próprio "25 de Abril".
Grande aplauso!

P.S.: O corporativismo dos professores e das suas associações deveria servir para dignificar a classe. Que tal começar por "expulsar as ovelhas ranhosas" que tanto mal fazem à imagem da "corporação"? Talvez depois de ver essa vontade claramente expressa, a crónica luta contra a Política LABORAL de TODOS os Ministros da Educação ganhasse maior consistência

Tareca disse...

sem duvida Ruinzolas. Nao gosto de ser dramatica, nem dar como caso perdido quem quer que seja, mas certamente tera de ser objecto de estudo o que se estara a passar com a dita doutora. Nao a vamos declarar como pessoa a partida incapaz, ate porque isso anularia toda a sua formacao e por conseguinte as instituicoes que lha deram, mas sim analisar a que altura a coisa tera descarrilado, e aos olhos de quem tera passado despercebido (tem de haver filtragem, certo? Nao bastam os titulos..). E estou de acordo com tudo Ruinzolas. Estes miudos tiveram ate muito discernimento.. acho que nos tempos que correm é de agradecer pelo guerreiro que ha em cada crianca.. pois de recursos.. a coisa anda mal servida. Ou queriam ve-los a queixarem se no conselho directivo e verem a coisa resolvida com igual facilidade? A coisa mudava de rumo e ainda ficavam suspensos e cheios de revolta.. Acho que sim. Concordo Ruinolas.. estes miudos estao de parabens.

gin-tonic disse...

Tudo o incomoda nesta lamentável história de que não conhece todos os pormenores. Apenas o que tem lido por aí. Mas o que lhe fez sentir um arrepio pela espinha foi a parte em que os alunos denunciam a professora, o método utilizado que, desculpem lá, talvez com um grande exagero de comparação, o remete para tempos outros.
Ainda não leu o artigo, "Delação na Sala de Aula", que Manuel Carvalho escreve hoje no "Público", mas serve-se de excertos publicados por Eduardo Pitta no seu blogue "Da Literatura":

«[...] Encerrado, e bem, este caso com um processo disciplinar, esperava-se que o Ministério da Educação se preocupasse com o outro lado da questão: o método usado pelas alunas e assumido pelas suas encarregadas de educação. Ora, que se saiba, não haverá ao nível da escola nem da direcção regional qualquer diligência, o mínimo gesto, a mínima palavra de censura pelo acto. O que, para os cidadãos e, principalmente, para os professores, quer apenas dizer uma coisa: que a espionagem clandestina do que se passa na aula, o recurso a tecnologias para instigar a delação é um método que não causa o mínimo arrepio à tutela. [...]

[...] Doravante, o recurso a gravações clandestinas que não têm qualquer valor probatório em sede de processo na justiça ordinária (exigem autorização de um juiz), passa a ser legitimado nas salas de aula. Os momentos de descontracção, de diálogo franco e aberto, de proximidade entre professor e aluno estarão condenados a desaparecer das nossas escolas. Nenhum professor deixará de ter medo ao pensar no fantasma da gravação oculta sempre que arriscar sair da matéria oficial para fazer o que lhe compete: abrir horizontes aos seus alunos. [...]

[...] Querer resumir o incidente à condenação da professora é por isso um insulto a todos os que consideram a bufaria um daqueles vírus que a escola tem o dever de extirpar dos hábitos dos jovens.»

Tareca disse...

bom eu acho francamente que nao havera aqui intencao de condenar a professora, que ao que aparenta, ate sera mais digna de cuidados que de acusacoes. Mas condenados tambem nao devem ser, e alias, muito menos, os alunos.. que mais nao sao que miudos de doze anos, e que virao de futuro a espelhar em sociedade aquilo que destes tempos levam. Tambem privo com os meus alunos (os adultos, e os miudos, aquando da pratica em questao).. nao ha qualquer quebra de comunicacao. Sou um pedagogo antes de qualquer pratica mais especializada, e é como tal que me apresento. Principalmente as classes dos mais pequeninos, que de momento nao pratico, mas ja o fiz tambem, nomeadamente na provincia (por colocacao... la esta o brilharete do nosso ministerio da educacao, mas nao estou aqui para lavar roupa..). E se me ofereco sempre de coracao para qualquer esclarecimento, se abordo curiosidades, se me presto de coracao para qualquer confidencia ou desabafo que em nada possam ter a ver com a aula em si, fazendo notar, e mais uma vez o digo, que a sala de aula é um espaço de partilha, nunca, e por vez alguma, me coloquei na pele de ceifadora do bem estar daquelas alminhas, com abordagens improprias, numa linguagem impropria, que os colocaria em posicao tal de terem de me 'expiar'. A minha aula é um espaço aberto. Nao teria qualquer problema em que a filmassem ou coisa que o valha. Ao fim ao cabo.. é uma prestacao de servico. Ou nao? Ja o disse e fico-me. A doutora precisa de cuidados e atencao. Nao esta apta a assumir a responsabilidade pelas aplicacoes cognitivas de quem quer que seja. Nem tao pouco das suas. Em nome de todos acho que lhe desejamos as melhoras, ate porque estudou e se formou, logo por ai, acarta sabedoria e sera por certo uma pessoa interessante e com algo a dar a sociedade. Quanto aos miudos.. que tenham um futuro prospero e se saibam sempre defender da forma mais correcta. Continuo a achar que aqui nao houveram bufos. É so que as vezes os 'doze anos nao gritam suficientemente alto' para que seja ouvido.. mais a mais.. face a tanto canudo. É so isto.

ruinzolas disse...

Custa-me entender que a melhor solução teria sido o lento silenciar da indignação de pais e alunos através da espera desesperante de que alguém responsável por aquele estabelecimento de ensino se desse ao trabalho de investigar a professora e a veracidade das acusações.

Que forma estranha de abrir novos horizontes aos miúdos...
Insultando os seus pais;
Chantageando e intimidando alunos;
Fugindo às responsabilidades;
Negando de forma inqualificável todas as acusações.

E até, a ser verdade, o episódio de um sublime desejo de ter um jeep novo à conta de um processo aos pais.

Por isso, acho inadmissível que se tente fazer dos miúdos os maus da história.

Abençoada bufaria que em tantos momentos da História ajudou ao sucesso de inúmeras revoluções por esse mundo fora, levando liberdade aos que sempre a desejaram e nunca a tiveram.

Mais do que filosofias e generalizações sobre relações professor/aluno, o que importa, acima de tudo, é que gravíssimos casos como o desta professora sejam eliminados.
O que acontecerá daqui para a frente?
Não sei. Mas se outros professores houver com comportamentos semelhantes que deixem de o ter por "receio"... AINDA BEM!