21 de abril de 2009

CAMINHADA PARA ABRIL


21 de Abril de 1974
Ontem aconteceu o costumeiro “Dia do Turista” e Portugal ofereceu, aos estrangeiros, de visita ao nosso país, “cravos, vinho verde e vinho do Porto” Como nenhum dos jornais refere o pormenor, admite-se que, entre os cravos distribuídos, alguns seriam vermelhos.
Dinis de Almeida no seu livro”Origens e Evolução do Movimento dos Capitães”, regista que “a redacção do programa do Movimento havia-se entretanto processado a partir de um documento inicialmente discutido entre Almada Contreiras, Martins Guerreiro e Melo Antunes.
Nessa redacção intervêm:
Pela Armada:
Crespo, Contreiras, Lauret, Simões Teles, Vidal Pinho. Pelo Exército: Melo Antunes, Costa Brás, Charais, Vítor Alves, José Maria Azevedo.
Pela Força Aérea, praticamente fora do assunto, só se faz sentir a sua opinião já no final, em 24 de Abril de 1974.
A versão definitiva do programa, passada à máquina directamente pelo próprio Hugo dos Santos, focou estabelecida em casa de Vítor Crespo, no dia 21 de Abril de 1974, domingo (epílogo das muitas reuniões efectuadas sobre o programa).”
Em Abril de 1974 Portugal era um país onde coexistiam a maior miséria e a riqueza mais faustosa. Com oito milhões de habitantes, em cada mil crianças nascidas 56 morriam antes de completarem um ano de idade e em cada mil habitantes 15 morriam de tuberculose pulmonar. Apenas 40 por cento da população tinha água em casa e 75 por cento não dispunha de esgotos. Em cada 100 portugueses 37 eram analfabetos e em cada 100 alunos que frequentavam o ensino primário 30 não o completavam e apenas 2 por cento vinham a obter uma graduação universitária.
E havia uma guerra em África. Milhares e milhares de mortos, feridos, estropiados.
“A Pátria não se discute, defende-se!”

Do poema “Uma Vez Eu,…” de Jorge de Sena em “40 Anos de Servidão” :

“Uma vez eu, chegando a Portugal
após muitos anos de ausência minha e alguns
de guerras africanas, encontrei uma vizinha
muito estimável que era casada com
um operário categorizado e antigo republicano.
O filho dela estava nas Africas, arriscando
a vida dele e a dos outros em defesa
do património da pátria de alguns (muito mais
que das gerações brancas que vivem nas Áfricas).
Eu condoí-me, todo embebido de noções políticas.
E ela, com um sorriso resignado, respondeu-me:
- Pois é, mas ele está a ganhar tão bem!”

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