Aqui há umas semana andámos, no “Dias Que Voam”, a comentar jornais, jornalistas, jornalismo de cola e tesoura, o quanto as redacções dos jornais vão ficando despidas de jornalistas competentes, gente com tarimba, em detrimento de estagiário sem experiência , pagos miseravelmente.
No passado dia 10 morreu o jornalista João Meaquita.. Tinha 51 anos. No meio da mediocridade reinate era sério, competente, rigoroso, coluna vertebral bem direita. Foi Presidente do Sindicato dos Jornalistas, foi fundador do “Público”, andou por diversos órgãos de comunicação social, mas não gostavam da sua frontalidade. Estava desempregado desde 2003.
Perante esta morte, José Manuel Fernandes, director do “Público” escreveu:
.”Conheci-o aí uns dois anos antes do 25 de Abril, tínhamos ambos 15 anos, nas reuniões do MAEESL, a associação de estudantes do ensino secundário de Lisboa, então semi-legal. Esses anos e os da revolução vivemo-los com uma intensidade hoje difícil de imaginar, e o tempo em que, já militantes de uma organização clandestina, fui controleiro dele, deixou-me recordações poderosas sobre essa espécie de mundo paralelo em que viviam os – literalmente – “maoistas de calções”.
Perante esta morte, Henrique Monteiro, director do “Expresso” escreveu:
“Morreu o amigo e camarada que me acompanhou e que eu acompanhei desde os meus 17 anos. Primeiro numa luta juvenil contra a ditadura e a guerra colonial e por uma revolução impossível com uma ideologia esquerdista e irresponsável; depois, a partir do momento em que ambos rondávamos os 20 anos, no estágio e no primeiro emprego como jornalistas e, mais tarde, na direcção do Sindicato; por último, como profissionais, como homens com ideias diferentes, mas cumplicidades imensas. Como homens, que se respeitam como homens livres.”
Bonitas as palavras. Dos mortos é sempre fácil falar, eles já cá não estão para ouvir, para nos mandar à merda. Estes dois senhores são directores de dois jornais, ditos, de referência, algum deu emprego ao “amigo e camarada”?
Obviamente que não! Pela simples razão de que ambos são títeres às ordens, atentos e venerandos, dos donos dos grupos económicos a que esses jornais pertencem e acontece que essa gente não gosta de homens com carácter e competentes., como o jornalista João Mesquita era.
As palavras destes senhores merecem o nosso desprezo. De tão fétidas reclamam urgentemente a descida à sanita e o banho purificador do autoclismo.
3 comentários:
Repito a mim mesma "tenho de trabalhar!" mas este post levou-me a teclar um lençol dado que qualquer gesto de ingratidão -seja no jornalismo seja em qualquer outro sector - desassossega, ainda incomodando mais o silêncio generalizado dos impávidos e serenos que povoam este universo mesquinho de invejas, jogos de poder, divisões entre predadores e presas.
A propósito de situações como a relatada, dizia há dias alguém (que teria certamente um justo destaque se tivesse vivido noutra região do globo) "a competência no nosso país incomoda".
Quando ouço casualmente a frase aplicada a seres de excepção - e não me refiro somente às qualidades profissionais - "já não acreditava que alguém tivesse a capacidade de me espantar",compreendo-a cada vez melhor.
E isto remete-nos para o tema "todos - sociedade - somos responsáveis" quanto mais não seja, pela passividade com que as injustiças rolam, pela inércia em querermos saber "a causa das coisas" acreditando piamente nos cozinhados que nos preparam, pela vontade de olharmos sempre em primeiro lugar para a nossa mísera sobrevivência, por comodismo,por querermos estar de bem com todos, (...). Por isso é que o tal exemplo de Herberto Helder há dias referido pode ser considerado um grão de areia na engrenagem, ainda acredito que existem poucos que não se vendem, mas já estou a sair da linha de raciocínio.
E isto daria uma extensão superior à da "Cena do Ódio" de Negreiros, embora sem efeito por partir de alguém que não tem o mesmo talento nem sabe odiar.
Chorei- refiro-o sem reticências - ao ver a parte final do filme "O Clube dos Poetas Mortos", não porque um ser excepcional foi para a rua, mas porque receei, na breve pausa e silêncios que o realizador tão bem soube criar, que a razão de ser de um professor - os seus alunos - não manifestasse solidariedade pelo gesto de ingratidão que se foi desenhando ao longo dos acontecimentos (e a imagem serve para tudo, desde o nosso quotidiano às injustiças profissionais, sociais, etc.)
O texto vai longo, mas o tema do post ainda incomoda alguns.
o caso do joão mesquita e da hipocrisia dos seus ex-camaradas é uma coisa muito mais comum do que seria saudável esperar.
o senhor josé manuel fernandes na sua longa viagem para a direita mais primária (lá chegará.. lá chegará... falta só um bocadinho assim), o que tem a dizer sobre o jornalista joão mesquita é que foi controleiro (esta do controleiro com que as organizações ligadas ao pc e ao que eu naquele tempo apelidava de neo-revisionistas, é uma expressão que me provoca vómitos) dele nos tempos em que eram maoistas de calções.
cada qual sabe de si e o josé manuel fernandes lá saberá o que teria de curto comprimento: se a cabeça ou os calções.
também henrique monteiro fala da luta contra a ditadura como a do esquerdismo irresponsável.
já há algum tempo aqui tive uma discusão com um antigo camarada do joão mesquita e do josé manuel fernandes (não faço ideia se tambem do henrique monteiro, mas isso é irrlevante) a propósito de um livro em que fala dos 'conquistadores de almas'
http://diasquevoam.blogspot.com/2006/06/os-conquistadores-de-almas-ou-auto.html
http://diasquevoam.blogspot.com/2006/06/o-proena.html
como muitos dos que por aqui andam há algum tempo, o meu passado político cruzou-se com esta gente.
umas vezes mais pacificamente que outras.
cresci com o maoismo já sem calções e sem achar que me tinham conquiatado a alma (coisa que não tenho, como sabem) ou que era um esquerdista irresponsável.
muita da minha independência de hoje vem desse crescimento, felizmente.
o joão mesquita era da udp, coisa que para um mrpp não era propriamente um elogio.
mass o reconhecimento que faço do trabalho dele tem a ver com tudo e também com aquilo em que estivemos em desacordo.
ter opiniões, ter coragem para as ter e as defender; trabalhar e gostar do trabalho pelo trabalho e pelo que o nosso trabalho pode trazer de bom também aos outros; pelo solidariedade; pela dureza de espinha.
nestas alturas em que o passado esquerdista é uma coisa tão má como ter epatite c, o joão mesquita é dos que se devem louvar.
e nunca estive ao lado dele em lado nenhum.
Caro Carlos: mesmo estando lá o Mão, assina por baixo o teu comentário.
Quiçá desnecessário, mas como tem a frontalidade como vicio e defeito, entende dizer: o João Mesquita não navegava na sua área de esquerda. Como não conseguiu ir além de Marx, nesta altura do campeonato tem-no visitado mais vezes do que algum vez suporia, está à vontade para dizer que, curiosamente, grande parte dos jornalistas que admirou, admira, navegam, em outras águas que não as dele. É o caso do João Mesquita, lembraria também o Rodrigues da Silva que, em devido tempo anunciou que iria partir para não voltar mais. Mas admirava-lhes o profissionalismo, a coerência, o não se venderem por quaisquer migalhas. E muito honestamente ficou lixado, com f, com a hipocrisia desses dois senhorecos aqui referidos e também de mais uns tantos. Acima de tudo porque não se lembraram do João Mesquita, ainda vivo, e desempregado há uns bons pares de anos.
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