Uma adivinha com divagações...

Sempre que entro no edifício, divirto-me a pensar no espaço onde decorriam as nossas aulas: de manhã raparigas, de tarde rapazes, de acordo com as dogmáticas determinações de Sua Excelência, o senhor presidente do conselho. O comprimento das batas e a separação sexista eram lei, mesmo na mudança de turno, as escadas para uns e para outros ficavam separadas em nome da "decência".
Prezo sobretudo as aulas de Desenho... quem nem dois riscos consegue fazer, não esquece o "stôr" Benjamim, sorridente, vagueando por outras galáxias mas, ao mesmo tempo, com uma expressão algo nostálgica, a pensar nos projectos pessoais de escultura , sonhos adiados num país que nem sempre valorizou os seus artistas. A amizade perdurou para lá da escola, com explicações a título gracioso destinadas a quem nunca conseguiu desenhar algo que prestasse, embora aprecie ainda hoje, no local representado na imagem, o que alguns das artes conseguem criar. O "stôr" e a sua cara-metade com os deliciosos lanches sempre a horas, passaram a figurar na minha lista juvenil de heróis, a partir do dia em que irrompeu o escultor pelo atelier de fundo de quintal, ostentando uma caçadeira, a fim de expulsar os ratos que corriam entre as belíssimas esculturas. A D. Helena levava as mãos à cabeça, mas nada o conseguiu demover dos disparos. Num grande canteiro do jardim, dominava a amoreira onde estávamos autorizados, o meu irmão Jorge e eu, a colher folhas destinadas a alimentar os bichos-da-seda, habitantes de uma caixa de cartão que guardávamos no sótão da nossa casa.
Para os que exclusivamente apreciam adivinhas, é conveniente que saltem as divagações, restrinjam a leitura a este último parágrafo e indiquem se reconhecem o local.

Acertou o Fernando quando fez referência ao Museu de Arte Moderna em Sintra.