Há alguns meses, os meios de comunicação espanhóis ocuparam-se dessas discotecas que estão abertas dia e noite, ininterruptamente, permitindo aos adolescentes que passem fins-de-semana de três dias sem irem a qualquer outro lado, viajando de umas para outras num estado de sobriedade cada vez mais deteriorado, que tem por efeito frequentes acidentes de viação mortais, perda de concentração nos estudos, etc. Os pais, admitindo que não podiam ser guardas dos seus filhos, exigiam do Estado-papá que encerrasse esses estabelecimentos tentadores ou, pelo menos, controlasse com maior rigor policial os que utilizavam veículos motorizados para se deslocarem de uma discoteca para outra. Não sei se estas medidas de vigilância são oportunas, mas é, em todo o caso, surpreendente a facilidade com que os progenitores tinham por adquirido que, sendo eles incapazes de se encarregarem dos seus rebentos, o Ministério do Interior tinha o dever de controlar todos os espanhóis.
Fernando Savater, O Valor de Educar
A revista Science procedeu a um estudo acerca dos factores que levam os jovens a ter sucesso escolar. O resultado espantou os investigadores, tendo-se apurado, por ordem de importância, os seguintes:
1- capital escolar da mãe;
2- ambiente familiar;
3- qualidade da escola;
4- rendimento da família.
(alerto para a posição em que se encontra a instituição escola, local onde os jovens passam a maior parte do dia)
Acabada de chegar de um pequeno café-restaurante a poucos quilómetros de casa reparei que, nas poucas mesas, se encontravam pessoas descontraídas, com uma chávena vazia à frente e em amena cavaqueira durante tempo interminável. Algumas folheavam revistas como se estivessem na sala de espera do dentista. Os clientes que entravam para almoçar, amontoavam-se ao balcão, empoleirados naqueles bancos desajeitados que, a qualquer momento, parecem desabar.
Há dias, um cidadão polaco, residente em Portugal, perguntava: “o que se passa com as pessoas? É que cada vez que vou ao supermercado vejo tudo com ar muitíssimo zangado, como quem diz, sai da frente ou ainda sou capaz de te agredir”.
4 comentários:
Os "pós-modernos" estão em crise, e acrise não é só económica.
O problema é precisamente esse, o de não ser "só" económica... é que os economistas, referindo-se à crise financeira, utilizam o conceito de "ciclos" ou de "flutuações" (quem sou eu para os contestar?) Quanto à "outra" crise, não me parece a "dita" compadecer-se desta questão cíclica, pois as gerações vão-na perpetuando em "efeito dominó". Se há países onde as pessoas começam a trabalhar bem cedo para, a partir das 16h, quando encerram as escolas, poderem acompanhar os seus filhos com passeios, conversas, idas ao cinema,etc., por que motivo teremos TODOS nós (independentemente da profissão) de viver proletarizados? Já não consigo ouvir alguns a argumentar: "pelo menos não me posso queixar, pois ainda vou tendo ordenado ao fim do mês"... lembro-me logo do poema da nêspera do Mário Henrique Leiria:(
Se me permitem um pequena observação: na Holanda foram feitas muitas investigações, e sempre chegaram à conclusão que as pessoas que não vêm de famílias com de bastante dinheiro, não conseguem fazer os seus cursos Universitários. É um facto, eu própria pude verificar isso.
Isto não se verifica em Portugal, onde encontrei um ambiente totalmente diferente, na Universidade!!
Uma das coisas que os portugueses não compreendem - e que só de fachada nos Países estrangeiros parece muito melhor.
Ainda bem, ilha. O post não se dedica unicamente a passar a ideia de que por cá tudo é mau. Não há muito tempo atrás, ainda eram concedidas bolsas de mérito para quem não tivesse possibilidades financeiras e apresentasse um bom percurso escolar até final do secundário. Actualmente, não sei qual é o cenário, mas receio - com o ímpeto anti-défice que se traduz em cortes orçamentais - um acentuar das desigualdades a curto prazo como se verifica no "melhor dos mundos do neo-liberalismo": saúde e educação condignas só para quem as possa pagar, mas isso sou eu, insignificante cidadã caracterizada pelo seu mau feitio...
Gostaria ainda de realçar o ocorrido há algumas décadas na Argentina: o movimento estudantil, tão expressivo quanto o Maio de 68, conseguiu que a universidade fosse aberta a todos, o ensino gratuito e que os professores do superior- até então em part-time - tivessem horários completos e dedicação exclusiva a fim de serem potenciados o rigor e a qualidade. Parecendo-me a medida louvável, fiquei apreensiva quando percebi que, nos nossos dias e naquele país, não havendo encargos financeiros por parte das famílias, uma percentagem significativa de estudantes demora actualmente cerca de 10 anos para concluir uma licenciatura. Isso por cá "thank goodness" não se verifica.
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