Lembram-se?
Anónimo disse...
onde era o B.Leza
12 Janeiro, 2009 18:31
MCV disse...
Para mim, outro tempo, o das Noites Longas
gin-tonic deixou um novo comentário na sua mensagem "Adivinhai duas":
Nos finais dos anos sessenta, princípios dos setenta, o Largo de Camões aos domingos, pela manhã ,era uma enorme aldeia cabo-verdiana. Ali se reuniam os que para aqui vieram na busca de outros caminhos. Tímidos, alegres, quase infantis. Vieram trabalhar mas trouxeram cheiros, sabores e a música. Ali se reuniam depois de uma semana de trabalho, para conversarem, gargalharem, matarem saudades. Também noutros pontos da cidade. O Fernando Assis Pacheco fez uns versos, “Cab’Verde na Estreal, de que o Paulo de Carvalho fez canção:. “Cabo Verde é uma lembrança quase uma tristeza mansa diz que aqui a vida é boa, ó enganos de Lisboa ai! Se não fora ela com o seu cheiro de canela não podia aguentar.”
Deve-se a Eduardo Prado Coelho, outros intelectuais, o “nascimento” dessas “Noites Longas” do B. Leza. Antes tinham feito o mesmo no “Jamaica”, Bob Marley, o reggaes em território de prostitutas e chulas. O Mário Dias era o disc-jockey”.
Por vezes estes pormenores esvaem-se. Foram para li pelo gosto da conversa da bebida, e pela maravilhosa música de Cabo Verde, mornas coladeras. O Eduardo Prado Coelho que até nem gostava de dançar, como deixou escrito em “Tudo o Que Não Escrevi”:
“Nunca dancei. Vi os outros dançarem, em terraços voltados para o mar, no chão de areia de África ou do Brasil, em clandestinos infernos de bares de marinheiros ou em inflamadas discotecas de praia turísticas, vi-os e julguei-os felizes, esquecidos e voláteis, perdidos e enovelados numa bola de fogo, mesmo se às vezes os pares se rompiam e ela vinha sentar-se a chorar, e então eu pensava que ainda havia palavras que podiam funcionar como carícias, que eu sabia dizê-las, palavras redondas, encostadas à face magoada e triste. Também dancei sem que os outros soubessem que eu dançava, mas dancei fora da dança, porque dançava para mostrar que também dançava, e lembrava-me disso em cada passo, e nunca esquecia que era o meu próprio corpo que dançava, e nunca soube dançar sobre o esquecimento do corpo, nunca ninguém dançou sobre o meu corpo como se fosse a areia da praia ou um terraço voltado para o mar, nunca ninguém que eu sentisse os dois esquecidos de mim.”
Diga-se por fim que aqui era o B. Leza mas também a sede do Casa Pia Atlético Clube. Também se diga que no B- Leza bebeu dos piores gins-tonic que até hoje bebeu. Mas a música e… o resto…fizeram, ao mesmo tempo, desses “gins” dos mais saborosos, memórias sem fim.
pegando no comentário do gin,
por alturas das noites longas, o casa pia atlético clube (sede da coisa) cedia aquele espaço a 3 entidades, que eu me lembre.
ao noites longas ao rui horta e ao arsis.
e a mais umas festas avulsas, para além das próprias dos casapianos.
nessa altura pensava bastante naquele grande salão de festas que servia para coisas aparentemente tão díspares como a música renascentista (a que mais cantavamos ao tempo com o francisco d'orey), as danças do rui horta, e as mornas e coladeras do noites longas.
frequentemente o ensaio das segundas feiras ainda começava com os despojos da noite... de sexta.
por essa altura o arsis fez um trabalho conjunto com a madalena vitorino. com base num conjunto de canções sobre o mar feitas a partir de poemas do langston hhuges.
um coisa lindíssima de ouvir, garanto-vos.
o joão na alcofa e eu a dar o biberão a meio do ensaio também era imperdível.