
DE TARDE
Naquele pique-nique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
Cesário Verde,1887
2 comentários:
Lindos, quer o poema quer o quadro (e depois, as "papoulas" - eu digo papoilas - vermelhas são as flores mais bonitas à face da Terra).
Também foi um poema que me marcou por ser tão visual, da primeira vez ouvi a leitura e comecei logo a pensar nas pinceladas coloridas dos impressionistas:)
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