7 de dezembro de 2008

DE DENTRO DO BAÚ DE NATAL



Fernando Pessoa tinha uma arca, ao que parece inesgotável, de tal modo que a semana passada os herdeiros leiloaram mais manuscritos. Ele tem um baú , não é bem um baú, é uma caixa de madeira, mas gosta da palavra baú, soa-lhe bem, cheio de coisas referentes ao Natal, as coisas mais incríveis: catálogos de supermercados, ementas natalícias, como decorar a mesa de um jantar de Natal, críticas a filmes de Natal, poemas, tradições da província e do mundo, as mais diversas notícias falando dos mais diversos acontecimentos que ao Natal dizem respeito, anúncios, textos, fotografias, cartas e postais que recebeu ao longo das vidas que já teve.
Lamentavelmente alguns textos não têm citação de proveniência. Na sua maior parte são artigos de jornal e textos da blogosfera. Aparecerão entre aspas e desde já, pelo facto, pede imensa desculpa aos autores. Nada do que baú vai sair é da autoria deste escriba. Apenas escolheu, não mais.

“Que quem critica o Natal como um pretexto forçado para reunir familiares, distantes ou não, se lembre que é um melhor motivo que o seu próprio funeral.”

“Natal. Poupem-me, por favor, às palavras da praxe. Poupem-me aos sentimentos subordinados a tempo e horários certos. Poupem-me a discursos de circunstância. Um voto apenas: dêem livros às crianças. E não só quando é Natal. As crianças precisam de brincar, é certo. Mas um livro também pode ser um brinquedo. Habituem-se a essa ideia. E já agora, boas-festas”

“Era Verão. Tinha acabado de receber um velho móvel restaurado. O meu amigo chegou, respirou fundo e disse: “Cheira a Natal. Estava feita a identificação. Aquela mistura de odores dos natais da infância, cera, aparas de madeira, chocolate, vinho generoso e bolos de mel.”

“Entre aquilo que Portugal deixou neste país africano, podemos destacar o costume de se comer bacalhau. na noite de Natal. E não se pense que é hábito de reduzida elite urbana, nostálgica de tempos coloniais, que alguns estudiosos gostam de impropriamente chamar “crioula”. Para já, a população urbana é metade da de Angola e vai servindo de matriz cada vez mais avassaladora da cultura angolana. E o costume está absolutamente espalhado, pelo menos por todas as cidades.”
- Pepetela, escritor angolano

“O Natal de hoje é uma invenção do capitalismo moderno para nos esvaziar os bolsos. Fazer compras de Natal, longe de ser um prazer, tornou-se um hábito que nos deixa mais pobres no espírito e na bolsa.”

“Detesto esta época do ano. Tenho de ser bom durante mais duas semanas se quiser ter prendas este Natal! Nunca serei capaz”. Os desalentos do Calvin da banda desenhada não constituem um caso isolado. Para que junto à árvore de Natal, na noite de 24 para 25 de Dezembro, o Pai Natal coloque, dentro do tal sapatinho, todas as prendas laboriosamente escritas numa carta enviada para o distante reino das renas e da neve, muitas agradáveis “maldades” ficaram por cometer.”

“Talvez o melhor Natal da última década: um Natal sem alegria. Se extrairmos a alegria, nada de mau acontece. Num Natal ou noutra ocasião, participamos nos rituais todos e ignoramos os rituais todos, repetimos por costume e convivência e quase necessidade, mas não significa nada, não custa nada, não fica nada. Estamos e não estamos, nada nos toca. Um Natal inteiramente sem alegria, isto é, inteiramente sem sofrimento.”
- Pedro Mexia

De um cartão de Boas-Festas, do Armindo, um velho amigo:
“Faz todos os disparates que quiseres e puderes e não te arrependas. Tem um Bom Natal!”

1 comentário:

teresa disse...

Li atentamente tantos e tão variados recortes postados pelo Gin e as opiniões diversas fazem pensar.
O Natal parece ser tudo isso, pois nele destacamos tanto de mágico como de "pesado", realçando - passo a modesta opinião - nesta época os pequenos abismos entre a família humana: ter/não ter uma mesa natalícia; ter/não ter uma casa; ter/não ter uma família com maiúscula,ter/não ter paz; ter/não ter saúde.
Apetecia ter poderes sobrenaturais para, em oferta natalícia, acabar com estas distinções...