1 de dezembro de 2008

Como interpretar esta tendência?

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Há dias falando com colegas com os mesmos interesses de estudo, referia-se a importância de algumas livrarias - sobretudo a recentemente encerrada- no que diz respeito à diversidade de escolha relativamente às ciências sociais e, concretamente, à pedagogia e educação.
Comentava alguém que, para espanto colectivo, as livrarias estavam actualmente lotadas de obras designadas de auto-ajuda, encontrando-se os exemplares em lugar de destaque em qualquer dos estabelecimentos mais procurados. Nestas conversas acabamos frequentemente com risos, comentários mas, ao mesmo tempo, acaba por imperar algum desencanto com a situação.
Não sendo sociólogos, todos se interrogavam acerca do fenómeno: o que procuram as pessoas? Quais as suas preocupações? Será a situação generalizada a diversos países e realidades? Só olhando para os tops de vendas se poderá tirar a conclusão, mas alguém apontou a obra O Segredo como um best-seller. Nem de propósito, nesse mesmo dia, logo a seguir à conversa,entregaram-me na estação de metro o seguinte folheto(transcrevo com as incorrecções):
Professor M...
Astrólogo - Grande Médium Vidente
Especialista de todos os trabalhos ocultos. Resultados rápidos e garantidos. Dotado de Dom Hereditário. Ele resolve todos os problemas mesmo os casos mais desesperados: amor, negócios, casamento, impotência sexual, insucessos, depressão, doenças espirituais, sorte ao jogo, protecção, retorno imediato e definitivo de quem amar, harmonia matrimonial e fidelidade absoluta entre esposos. Se quiser prender uma vida nova e pôr fim a tudo o que lhe preocupa, contacte o Mestre M..., ele tratará o seu problema com rapidez, honestidade e eficácia.
Consultas das 9h às 22h de Segunda a Domingo, pessoalmente ou por carta. Pagamento depois do resultado.
Rua ...... Lisboa.... perto do metro....
Fiquei a pensar se será a mesma tendência a que leva as pessoas a encherem, às sextas-feiras, os pontos de entrega de boletins de jogo. É certo que quem não joga nunca ganhará uma fortuna de um dia para o outro e a crise, etc. e tal..., mas continuo a acreditar mais nas pessoas do que nestes ventos da sorte. Quem assim pensa será ET?

4 comentários:

Anónimo disse...

Viva.
Há dias ouvi, com bastante incómodo mas igual curiosidade, uma emissão de uma assembleia, ou antes 'roubalheia', da IURD.
Já sabia que era mau, mas não estava à espera de tanto.
O tom de voz histérico, as ameaças da ira divina ( e não só: o 'pastor' dizia qualquer barbaridade e perguntava de forma enfática: "estão entendendo?"(pausa)"SIM OU NÃO?", num tom que era claramente ameaçador).
E pedia (exigia) dinheiro descaradamente ("ninguém é obrigado a dar, mas como é que Deus vai acolher seu pedido se não huver um sacrifício, pela fé? Então dá, dá de coração,..." etc.

teresa disse...

info-excluído,
interrogo-me se o fenómeno de alinhamento nestas fraudes se prenderá unicamente com cidadãos que não tiveram, por motivos vários, possibilidades de pensar criticamente (sem acesso à escola, etc).
Quanto à situação que refere, conta-me quem passa casualmente perto da sede lisboeta, que é impressionante a multidão dominical à saída do antigo cinema Império:(

Anónimo disse...

Impressionou-me muito a história (denunciada pelos órgãos de comunicação social) de uma professora que tinha um filho em estado terminal. Foi à IURD onde lhe disseram que só a fé poderia salvar o filho e que ela tinha de abdicar de todos os bens materiais. Doou tudo (jóias, ouro e dinheiro) à IURD e passado pouco tempo o filho morreu.
Há sempre abutres prontos a capitalizar com a desgraça alheia.
Faz ainda mais confusão porque, em princípio, pessoas com estudos deveriam estar alerta contra este género de aves de rapina, para quem os dramas ou tragédias dos outros significa a Sorte Grande.

Mal por mal, volta e meia arrisco 2 euros num euromilhões :-)

Anónimo disse...

A IURD (ou melhor, a crença das pessoas nesse pessoal) é uma coisa impressionante. É tudo tão descarado.
A (falta de) instrução deve ser um factor, mas é preciso não esquecer que toda a gente tem um certo pensamento mágico, por mais instruída que seja. Eu, pelo menos, tenho essa ideia.