26 de novembro de 2008

DIÁLOGOS DE FILMES

Como por aqui não se quer fazer crítica de cinema – era o que faltava! – apenas revelar diálogos, faça-se, para quem não viu, a sinopse do filme. “Esplendor na Relva” conta a história da auspiciosa relação amorosa entre dois jovens do interior do Texas mas que é brutalmente interrompida por acção dos pais. Ficam separados. Ele é enfiado numa universidade, ela tem que ir tratar-se para um manicómio. Há quem diga que a única coisa que dura, para além da vida e da morte, é o amor e que nada é eterno como o amor . Voltam a encontrar-se no final filme, não para um “happy-end”, mas para recordarem o esplendor na relva que os acompanhou na idade da inocência. Este é o diálogo do final do filme:

“Bud – Casei com a Angelina. Sabes que nem ao fim do 1º ano cheguei?

Deanie – Ela é muito simpática.
Bud – Foi maravilhosa quando as coisas se complicaram.
Deanie – És feliz, Bud?
Bud – Acho que sou. É pergunta que não costumo fazer a mim mesmo. E tu?
Deanie – Caso para o mês que vem com um rapaz de Cincinatti. Acho que ias gostar
dele.
Bud – A vida às vezes leva cada rumo, não é, Deanie?
Deanie – Lá isso!...
Bud – Espero que sejas muito feliz.
Deanie – Também eu não penso muito na felicidade. Como tu.
Bud – Para quê? Temos de aceitar a vida como ela é.
Deanie – Gostei muito de te ver.
Bud – Obrigada, Bud
Deanie – Adeus.”

Terminado o diálogo com Bud, Deanie encaminha-se para o carro onde a espera uma amiga, que lhe pergunta:
- Achas que ainda o amas?
Deanie não responde, há o desenho de um sorriso triste , crepuscular mesmo, um grande plano da sua lindissima face e começa a ouvir-se a sua voz em off lendo os versos do poema de William Worsworth “Intimation of Immortality”:

“Aquele brilho outrora tão resplandecente
Dos meus olhos se ausentou para sempre
E agora, apesar de perdido o esplendor na relva
E o tempo de glória em flor,
Em vez de chorarmos, buscaremos força

No que para trás deixamos.”

Bud é interpretado por Warren Beatty, no seu primeiro papel de uma excelente carreira como actor, mais tarde um muito interessante realizador, e Deanie por uma deslumbrante e inesquecível Natalie Wood.
No seu livro “Homem de Palavras”, Ruy Belo tem um poema justamente chamado "Esplendor na Relva" e até hoje não conseguiu que alguém lhe disesse se o poema é sobre o filme ou sobre Deanne Loomis, ou se, para irmos mais longe, sobre Natalie Wood.:

“Esplendor na Relva”

Eu sei que Deanie Loomis não existe
mas entre as mais essa mulher caminha
e a sua evolução segue uma linha
que à imaginação pura resiste

A vida passa e em passar consiste
e embora eu não tenha a que tinha
ao começar há pouco esta minha
evocação de Deanie quem desiste


na flor que dentro em breve há-de murchar?
(e aquele que no auge a não olhar
que saiba que passou e que jamais

lhe será dado ver o que ela era)
Mas em Deanie prossegue a primavera
e vejo que caminha entre as mais”



1 comentário:

AnaMar (pseudónimo) disse...

Para uma romântica incurável, como eu, este foi um dos filmes que me marcaram.

E o amor é para sempre. Para sempre enquanto durar... (como escreveu um poeta).

Mas amor, como o vivido no filme de Bernardo Bertolucci, de 1990, The shelterinh Sky (Um Chá no Deserto) um amor de paixão que leva à morte e à loucura, é inigualável...E é para sempre.

Abraço