4 de agosto de 2008
O perfume da infância
À medida que vamos ficando mais velhos, a nossa base de dados de aromas determina variáveis com mais facilidade. Desde o cheiro a igreja, a casa, a piscina, cada espaço tem um determinado cambiante que nos faz reconhecê-lo à distância. Que o diga eu, vizinha de cima de um restaurante chinês que transitou para um honesto e simples restaurante à portuguesa, que exala pelas colunas do prédio um cheiro a uma maravilhosa sopa de hortaliças e de estufados que me fazem suspirar (compensam os dias dos carapaus e das sardinhas).
Mas adiante . Isto também é velhice, ir interpondo recordações à narrativa.
Dizia eu dos cheiros. Hoje recordo o das escolas primárias. Não mudou desde 1966. O cheiro a roupa e sapatos suados, a lápis, à sopa da cozinha,aquela fragrância indefinível que todos os ginásios ostentam, à lixívia nas casas de banho, o papel as tintas, os barros, o cheiro a papel velho e novo.
As batas e casacos abandonados nos cabides que acompanham os corredores. Os chapelitos e bonés mil vezes perdidos e abandonados.
Nunca entro numa escola que não sinta esta parafernália de odores. Aqui é a infância.
Abro a porta e sei. E de catadupa chegam memórias, rostos e impressões.
Bem-vindos sejam e sorrio.
Azulejos da escola nº 29 de Lisboa , ao Jardim do Torel.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
6 comentários:
Um dia, descreveram-me, tanto quanto é possível fazê-lo, um museu dos cheiros já não sei bem onde (e a preguiça de ir à procura...).
É uma coisa que por cá haveria de ter frequência, não sei dizer por quê, mas parece-me que...
Risos. Se calhar tinha:)
E justamente um dos que me citaram foi o cheiro a escola.
Passando-se isso algures lá para a Europa do meio, o cheiro era semelhante ao nosso - disseram-me. Resta saber quão semelhante... :)
lindos... os azulejos e este relato de memorias dos cheiros... de repente estava na cebe... ;)
Deve ser muito semelhante. Risos.
Texto giro T.!
Tem piada, nunca liguei a memória dos cheiros ao ir envelhecendo, mas que a minha memória dos cheiros está mais atiçada, lá isso está! Tenho que me por a pau!
Penso que este caso da memória dos cheiros se prende com outra questão, com a capacidade de irmos seleccionando componentes de um aroma e criando ligações, de alguns desses elementos de um cheiro, a momentos muito precisos! Quem não associa determinados cremes a cheiro de bebé? Esta associação do cheiro a escola é muito peculiar, até nos nossos serviços educativos do museu, após uma actividade com crianças, cheira à minha escola primária!
Eu cheiro a fruta antes de escolher, procurando associar o cheiro com memórias gustativas de qualidade da fruta.
Engraçado é também o contrário, eu defino o sabor dos percebes como ‘cheira a mar’!
Um dos comentários que o Museu de Portimão teve, referia “ na exposição só falta o cheiro”!
Isto do cheiros é muito engraçado!
Enviar um comentário