7 de maio de 2008

guilty guilty guilty, ou diamanda galás no seu melhor


diamanda galás é um caso único.
que a própria se trata de cuidadosamente manter e aprofundar.


a atitude de distanciamento do público, a completa anulação da sua presença em palco e o minimalismo do cenário obrigam o espectador a concentrar-se na sua música.
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se a meredith monk (de quem ainda não falei aqui no seu último disco) parte de experimentação vocal para a composição musical e da exploração das suas (e dos seus acompanhantes) capacidades técnicas vocais como a base de tudo,
diamanda galás parte, neste espectáculo, da canção como base para a transformar numa estrutura musical muito mais complexa a que as suas 'absurdas' capacidades vocais dão corpo.
este 'guilty...' é uma espécie de compilação de semana santa cheio penas e culpas e de 'canções' de amores traídos, mortes passionais e outros dramas do coração.


do lindíssimo 'long black veil' a 'heaven have mercy' (em clara homenagem a edith piaf), passando por blues, rock, até a uma espécie de quase flamenco, gulty é a expiação dos pecados (ou a louvação deles), com a diamanda galás a extripar cada nota e cada acorde, a mostrar as suas (e as da música) entranhas e expor-se assim numa catarse vocal única.
a estrura base da música orignal continua (quase) sempre no piano.
aí reconhecemos o estilo, a música, a canção.
por cima disso, a voz natural e o tratamento digital que dela faz sobrepondo-a à sua transforma-se num novo instrumento complexo e rico.
um concerto da diamanda galás ensina-nos muito mais sobre a música do que podemos imaginar.

os espectadores com dedos espetados nos ouvidos por causa dos decibéis produzidos, é folclore: em qualquer concerto rock têm muito mais que isso e saltam de contentes de moche em moche.

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há umas semanas, enquanto esperava pelo começo dum concerto pelo iraque, no meio duns cafés numa mesa do foyer do são jorge, o meu irmão perguntava ao zé mário branco sobre os arranjos do disco que iria sair nessa semana do camané.
ele respondia que tinha reduzido tudo à sua base mais primária (voz, guitarra e baixo), e que queria caminhar para o depuramento total da música em que o cantor a cantasse também com o silêncio, as palavras, o porte em palco.
ontem lembrei-se dessas sábias palavras

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