Pensei, depois de ter lido com atento respeito esta sábia literatura, que poucas verdades seriam tão profundas como aquela, pelo menos com respeito a Lisboa. Com efeito, basta considerar o nosso vasto esqueleto urbano para se verificar que o relator tem evidentes razões técnicas. Começando pelo Braço de Prata, pela Perna de Pau e pelo Cabeço da Bola, o próprio povo , no rolar dos séculos, se encarregou de informar-nos claramente que vivemos (cheia de marrecas) sobre uma capital de corpinho bem feito.

Da Travessa da Cara à do Pé de Ferro e da Bica do Sapato, à do Cotovelo, ao Pátio do Tronco, à Bacia do Tejo e à Linha de Cintura, às grandes artérias e às gargantas de São Roque e Das Amoreiras - tudo completo, com a Rua do Assento, o Cais da Lingueta, e o Casal dos Ossos, (à rua das Casas de Trabalho), um autêntico e modelado corpo humano, com toda a sua anatomia descritiva. E nem lhe falta mesmo o adorno capilar do Caracol da Graça, dos Barbadinhos, dos Becos da Cabeleira a S. Bento e do Capachinho à rua do Costa, os Casais de Mal-Penteado a Carnide e do Pai-Calvo a Caselas.


Lisboa tem, evidentemente, além de uma alma que os fadistas cantam, um corpo a que não faltam corcundas nas encostas, e vegetação abundante em várias regiões - Tapadas, evidentemente."
Leitão de Barros, "Os Corvos"
Fotografias
Pozal, Fernando Martinez Travessa do Pé de Ferro
Serôdio, Armando, Escadas do Caracol da Graça
Portugal, Eduardo Pátio do Tronco
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