Os livros aqui em casa espraiam-se e multiplicam-se. Não há divisões imunes a esta propagação. Este é um facto.
Pedem-me que fale dos livros que mudaram a minha vida. Foram alguns, mas não vou fazer esforço de memória e aqui os registo ao Deus dará.
O primeiro livro que me foi confiscado pelos meus pais depois de várias perguntas minhas, sobre se se podia ter filhos sem se ser casada. A estante do corredor ficou trancada durante uns tempos. Era a Servidão Humana do Somerset Maugham e eu tinha 8 anos. Fiquei a saber que nem todas as leituras devem ser comentadas. (li-o depois tinha 13 ou 14 anos).
A Paixão de Jane Eyre, da Charlotte Bronte. Nunca tinha lido sobre o amor a sério e arrebatador. E isto mudou a minha visão do mundo.
Moby Dick de Herman Melville. O mar, a aventura, o medo, o capitão Ahab. A par das 20 mil Léguas Sumarinas de Jules Verne e o seu capitão Nemo. Estas leituras abriram caminho ao Stevenson, Conrad, Jack London,Pratt, ao Heinlein, à Le Guin, à Anne Mccaffrey e a muitos outros autores e lugares. Sonho, aventura e inquietude. O mito do herói. Está tudo aqui .
O meu livro, porque acompanhou um momento afectivo particular, é o Belle du Seigneur de Albert Cohen. Comprei-o e ofereci-o várias vezes. Agora nem o tenho. Não preciso, está cá dentro. E recordá-lo é recordar também o Livre de ma Mére. Dois tempos, um de paixão absoluta e outro da morte da minha mãe. Mudaram a minha forma de ver o mundo e ajudaram a reconstruir.
Li em miúda uma Bíblia ilustrada e adaptada a jovens. Nunca mais a vi nem a reencontrei nos alfarrabistas. Eu pelava-me pelo velho Testamento, crime e castigo pois então. Fui assim óptima aluna na Catequese, especialista em pormenores aterrorizadores. Talvez por isso goste tanto de policiais.
O Larousse ilustrado que havia lá em casa. Sempre fui cusca. Agora tenho o google e as biografias. Mas esse livro fez-me perceber que nunca saberia tudo, mas que podia pouco a pouco procurar respostas.
Sylvia Plath é uma companheira recorrente quando preciso de pensar ou de chorar. Em prosa A Campânula de vidro fez-me descobrir coincidências que me permitiram evitar alguns tropeços na vida. Como poetisa e a par de Herberto Hélder, Eugénio de Andrade e Al Berto.
Há os livros de aconchego e os que gosto que me inquietem e me desafiem. No semear de dúvidas e de certezas está Borges e o seu Aleph entre outros. Tenho um fraco pela Espuma dos Dias e por toda a obra de Vian, que me fez ter uma adolescência melhor e um imaginário conduncente.
Não sei se era bem isto que me pedia o amigo Paulo. Estes são alguns livros que associo a fases de vida e a mudanças, a percas e ganhos, a tristezas e alegrias.
Daqui a um mês certamente faria uma lista diferente. E é isto.
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