5 de maio de 2007

o primeiro de maio, o dia normal de 8 horas e o teatro popular

nunca houve uma grande tradição de teatro popular revolucionário em portugal.
o teatro revolucionário, com características mais ou menos 'proletárias', mais ou menos 'intelectuais', sempre teve uma linguagem demasiado erudita para ficar bem na voz dum proletário.
alguns 'bons' exemplos em folhas de stencil durante a ditadura e alguns durante os primeiros anos a seguir a 74, não fazem mais do que confirmar essa regra.

durante o final da monarquia e o começo da primeira república, por força da enorme implantação dos anarco-sindicalistas (que tinham nos seus maiores teóricos muitos operários) e de alguma burguesia preocupada com as questões sociais, o teatro popular revolucionário teve momentos de grande fulgor.

a livraria popular de francisco franco (que ainda conheci) tinha uma enorme 'biblioteca dramática popular' com centenas de pequenas peças de teatro.
no final do século 19, henrique macedo júnior escreve uma pequena peça em um acto, chamada 'o operariado'.
a acção passava-se nos arredores do porto, em 1896, numa 'sala de modesta aparência, contendo apenas os móveis indispensáveis: uma mesa de pinho, duas ou três cadeiras' e apenas 5 personagens: 1 operário inválido de 60 anos, 2 jovens tipógrafos de 18 e 25 anos (ao tempo os tipógrafos eram, claramente, os operários mais esclarecidos), um padre de 65 anos e um mestre sapateiro de 56 anos.
para mim, que identifico a idade das pessoas por décadas, adoro esta perfeição na definição das idades.

era o tempo em que os padres, pelo enorme poder social que tinham, ficavam com todos os créditos por tentarem impor as ideias mais conservadoras no seio do povo.
dai que, mesmo no tempo da monarquia, fosse mais importante a luta anti-clerical que a luta 'directa' contra a nobreza (uma instituição demasiado distante do povo).


a capa:
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e a última folha:
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