A cabeça do patrão
Sobre a travessa decorada
Com rodelas de limão
A fumegar, bem escaldada
Eis a cabeça do patrão.
Jaz de pálpebras cerradas
Branca em fundo colorido
E pequenas fumaradas
Saem do crânio fendido.
Cruzam-se-lhe na testa alvar
Veiazinhas às dezenas
Que a luz parece tomar
Tal qual pálidas verbenas.
A língua aos poucos inchada
No seu banho de vapor
Parece, azul, granulada
O queixo de um velho actor.
A queixada ainda inteira
Envolta em fumaças finas
Mostra o arroz da mioleira
E as cavidades intestinos.
Duas rosas em poupa
Sobre a âncora do focinho
Parecem a crista ou a roupa
De um fabuloso estorninho.
Sobre a travessa decorada
Com rodelas de limão
A fumegar, bem escaldada
Eis a cabeça do patrão.
Segundo Gabriel Párvulo, poeta contemporâneo.
in A Cozinha Canibal, Roland Topor
Sem comentários:
Enviar um comentário