1 de janeiro de 2006

Morra o d'antes, morra! Pim!

Agora que chegou ao fim o fim do fim do ano e que o fim do fim do princípio do ano também se aproxima, é a altura certa para tomar a decisão de adiar a tomada de decisões importantes.

Por princípio nunca começo as coisas pelo princípio e nesta altura em que, digamos assim, o campeonato já vai a meio, é um risco arriscar começar o que quer que seja.

Partamos, portanto, da elementar verdade de que aquilo que não for começado não corre o risco de não ser terminado e sobre isso construamos uma nova ordem mundial.

Cada decisão que tomamos é errada. Garantidamente errada. Mais tarde ou mais cedo.

Mesmo assim, por inerência de uma certa inércia que terá vindo do início dos tempos - uma evidente decisão errada - gerou-se uma necessidade incontrolável de tomar decisões, gerando com elas novas necessidades de tomar decisões e assim sucessivamente.

Há, nitidamente, uma grande dificuldade em a realidade ter verosimilhança. Suponho que é um problema que ocorre a qualquer prosador e ainda mais ao prosador que tenha a veleidade de - por razões certamente inconfessáveis - querer ser lido. Mas para a realidade, que em tempos teve, pelo menos por inerência de cargo, a responsabilidade de ser autêntica, a falta de verosimilhança impede aquilo que se chama a realização de um contrato com o leitor.

Por todas estas razões estou à espera de um dia destes, em que a conjugação dos astros, dos asteróides, das luas, dos cometas e dos outros objectos celestes, seja propícia, tomar a decisão de deixar de ler a realidade, saltar as linhas e as páginas em que for evidente o excesso de imaginação deslocada do contexto, ignorar os textos obtidos por 'copy & paste', ignorar os textos gerados a partir da máquinas electrónicas de repetição ou de geração aleatória que passam por criativos, indignar-me com novidades trazidas directamente do baú do morto.

Ontem ouvi outra vez o Dantas do Almada. Morra o Dantas, morra! Pim! Em miúdo, não sabendo quem era o Júlio Dantas, parecia-me que o Almada dizia: Morra o d'antes, morra! Pim!

Para este ano prevê-se o regresso do Dantas e do d'antes. Pim!


Du Prólogo


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