8 de novembro de 2005
a propósito de intervencionismo, centros de decisão, livre concorrência, direitos do consumidor e livre escolha
a propósito da compra da compal e da nutricafés pela sumolis, com intervenção da cgd, levantou-se o director de público em editorial (e a avaliar pelas referências, provavelmente também os jornalistas do diário económico), questionado se tal negócio seria bom para 'portugal e para os portugueses' (como agora se diz), ou se não seria mais avisado o exemplo inglês exemplificado pela não interferência perante a intenção da telefónica comprar a o2 e de o porto do dubai querer comprar o operador portuário p&o.
vamos por partes:
1. o facto de o estado britânico nem os jornais britânicos não se terem manifestado no caso da compra de uma operadora telefónica secundária, nem no caso do importante operador portuário, só quer dizer que não intervieram nestes.
já intervieram em muitos outros e com muita força (vide a compra dos fabricantes de automóveis britànicos por empresas alemãs que foi comparado a uma vingaça pela derrota na guerra).
do mesmo modo, já se fizeram centenas de importantes vendas de empresas portuguesas a empresas estrangeiras e ninguém mexeu um dedo para o impedir.
isto é, não devemos comparar o não comparável e não devemos dar exemplos isolados conforme nos convém às ideias.
2. levanta o director do público a questão da perda da entrada de capitais estrangeiros por se ter decidido manter a compal e a nutricafés em mãos nacionais, comparando à avalanche de petrodólares que o dubai pagará pela p&o.
desconhecerá o senhor que qualquer das empresas estrangeiras interessadas no negócio iriam intervir através de empresas portuguesas e recorrendo ao mesmo capital que a sumolis recorreu: o da banca portuguesa.
o aval para tais operações seriam seguramente a central de cervejas, a unicer ou e refrige e o dinheiro não viria da coca cola internacional ou da cervejeira de newcastle...
resumindo: nem um euro entraria em portugal com tal compra por parte de tais entidades.
pior ainda: sairiam as mais valias resultantes do negócio que os senhores não são a caritas.
3. outra questão tem a ver com o facto dos ingleses não estarem preocupados com a deslocação dos centros de decisão.
nem eu estaria se fosse inglês.
basta olhar para o mapa da península e colocarmo-nos na posição de qualquer multinacional: só um louco manteria o centro de decisão em lisboa.
quer do ponto de vista geográfico (determinante para a logística), quer do ponto de vista da dimensão dos mercados (o mercado de consumo português representa 20% do mercado espanhol). E muito menos se olharmos para o mercado europeu como um todo.
se olharmos para o mapa do reino unido facilmente verificamos que no centro daquela zona está... o reino unido (e aqui a logistica é determinante.. para além daquele pormenor insignificante dos ingleses falarem.. inglês.. que é a pedra de toque para londres continuar a ser o centro financeiro da europa: os americanos são incapazes de falar outra língua, lembram-se?). para além do facto de ter sido o primeiro mercado bolsista realmente internacional no mundo).
comparar os níveis de perigosidade da fuga de centros de decisão entre lisboa e londres é o mesmo que comprar serradura e pão ralado.
das questões não levantadas pelo director do público, ressalto eu a concentração e a livre escolha do consumidor.
em portugal existem 2 (duas) cervejeiras.
não se avista no horizonte nenhuma cerveja nacional ou internacional que consiga penetrar neste monopólio a duas mãos (a exemplo de outros negócios em que o açúcar é um exemplo.. exemplar).
cada tentativa de entrar no negócio das cervejas recebe uma barragem atacante das duas empresas que aniquila qualquer tentativa (sim. aqui estão unidas...).
a compra da compal (líder destacadíssimo nos sumos) por qualquer destas empresas colocavam a que vencesse numa posição contrária a lei da concorrencia (existente em qualquer país do mundo, mesmo os ultraliberais americanos ou ingleses) por dimensão despropositada.
o mesmo se passaria se a compra fosse feita pela coca-cola, com uma posição de quase monopólio na venda de colas.
esta questão, por sí só, poderemos dizer que não haveria nada contra ela. isto é, uma empresa tem todo o legítimo direito a crescer e ganhar quotas de mercado. não tem culpa que os outros não cresçam.
a questão tem a ver com outro pormenor que é a livre escolha do consumidor:
todos nós já chegamos a um café e ao pedir uma garrafa de luso nos sai uma de vitalis.
se olharem para a cerveja que está à venda.. é superbock.
com alguma sorte, um dia destes o café será o da unicer também...
do mesmo modo vos pode acontecer pedirem um sumol e vos dizerem que só há fanta ou pedirem uma seven up e vos trazerem uma sprite.
se olharem em volta, o merchadising será todo da coca cola.
a compra da compal pela unicer, central de cervejas ou coca.cola fecharia o ciclo para qualquer destas empresas, porque a única coisa que não têm é o líder dos sumos com gás e, por isso, por vezes têm que ceder.
com a compra da compal por qualquer destas empresas teriamos os cafés e os restaurantes como coutadas de uma empresa.
o negócio da compal é muito mais que o negócio da compal: é também o negócio das muitas marcas de cada uma das empresas que a queria comprar.
poderíamos pensar então:
mas com a compra pela sumol o caso não se repete?
tem a sumol e a seven up que são líderes na sua classe. poderá fazer o mesmo!
errado. falta-lhes a cerveja que é determinante para os contratos de concessão e/ou falta-lhes o lider em colas (bem mais importante que a liderança em sodas (ou gasosas, como lhe queiram chamar) e/ou em sumos com gás.
para o consumidor português e para todas as restantes marcas que não ganhariam a compra, a solução sumol é de longe a melhor.
levanta ainda mais uma questão: o do valor pago por acção ser superior ao valor de mercado e isso poder ser um negócio ruinoso para a cgd.
tirando o facto de a compra das acções pela sumol estar garantida ao fim de 5 anos; da natural valorização do papel em bolsa com o crescimento da massa crítica da empresa exploradora, parece a cgd ter garantido um preço mínimo garantido de venda.
pormenores, diria eu.
falta aqui um elemento da questão:
a pretensão de management buy out por parte dos quadros da compal, liderados por pires de lima.
do meu ponto de vista seria a melhor solução.
manteria mais um operador no mercado. e, principalmente, um operador sem posição relevante noutras classes da área das bebidas.
isso seria importante para a concorrência, e para a livre escolha dos consumidores.
não faço ideia porque não ganhou, mas isso o director do público não refere nos seus receios e objecções.
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