Época de gripe. Tudo aos espirros. Alguns vacinados, outros nem por isso. Confusão em muitas cabeças: “Vacinei-me o ano passado e estive sempre constipado / apanhei uma constipação enorme”, etc.
Primeira confusão: gripe e constipações são coisas diferentes. Os vírus da gripe, Influenza A e B, são “bichos” diferentes dos causadores das constipações, a maioria dos quais pertencentes ao grupo dos rinovírus. Os vírus causadores de constipações serão para aí uns 150, razão pela qual os miúdos que vão de novo para os infantários apanham uma carraspana de 15 em 15 dias – estão a construir o seu CV imunitário (do tipo “tens vírus para a troca?” com os coleguinhas).
Os vírus da gripe têm o desagradável hábito de mutar. Às vezes mutam para coisas que já conhecíamos antes (sabe-se um bom bocado da genética destas criaturas) outras vezes decidem ser originais e mutar para qualquer coisa nova. As mutações, e os ciclos gripais, evoluem de forma sazonal. Começam ali para os lados da Mongólia, viajam para Sul, apanham todos os aviões e barcos que saem do Extremo Oriente e zás!... são-nos entregues de bandeja, lenços de papel e tudo. Como sistema de distribuição não se arranja melhor.
No mundo inteiro há grupos de detectives à coca das mutações e das deslocações dos vírus da gripe. Uma espécie de CIA multinacional, ligada em rede. Na Europa a sua sede está aqui. Entre nós, o Centro Nacional da Gripe e os Médicos-Sentinela (entre os quais se conta este vosso criado) fazem este trabalho de sapa. A informação recolhida por estas redes permite prever com uma razoável precisão o tipo de bichos que vêm aí para nos atazanar os corpos e a paciência. É essa informação que serve de base para a composição das vacinas, produzidas anualmente sob as especificações da Organização Mundial de Saúde.
Vale a pena recordar, ainda e sempre, quem deve ser vacinado. Neste documento da Direcção Geral da Saúde está tudo bem explicadinho. A ler cuidadosamente.
E se gripar, caro leitor, diz o povo: “abife-se, avinhe-se e abafe-se”. É mais ou menos isso. Muitos líquidos, antes de mais, de preferência quentinhos, para aliviar a irritação das vias respiratórias. Chazinhos com sabor a gosto, leite, etc – no fundo, água com os sabores favoritos do freguez. Muito repouso – mas é repouso mesmo, não é ficar de baixa em casa a tratar das coisas atrasadas. O vírus Influenza adora músculos – nhac! – e deixa-os em picado. É fundamental permitir que os músculos recuperem. Antipiréticos ou anti-inflamatórios dão uma ajuda para que a vítima se sinta menos miserável. Existem medicamentos específicos para o tratamento da gripe que reduzem o tempo de duração da doença, mas não é absolutamente claro ainda que se justifiquem em todas as situações – actualizações deste aspecto nos próximos capítulos. Depois é regressar à vidinha do dia a dia, um bocado embezerrados e moídos. Vai passando. Às vezes fica uma tossezinha irritativa, particularmente em quem fuma, mas não só. Aí, como sempre: vapor, líquidos e muita, muita paciência...
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