Aconteceu que um dia calhou pernoitar um almocreve em casa de um lavrador. Altas horas da noite ouviu reboliço em casa e perguntou o que era aquilo. Disseram-lhe que estavam a prender os bois e a preparar o carro para ir à Serra buscar a manhã, porque aquele mês tinha-lhe calhado na escala.
O almocreve viu logo ali uma boa ocasião de fazer negócio, e perguntou:
Quanto dão vocês a quem voz traz um bichinho que todos os dias vos diz quando é manhã?
-Trinta mil reis e uma carga de presuntos (era o dinheiro de Fajão).
Eles aceitaram, e o almocreve, à volta, trouxe-lhes um galo. O galo cantava logo de manhã e assim eles escusavam de ter tanto trabalho para ir buscar a manhã.
Mas esqueceram-se de uma coisa: não perguntaram ao almocreve que é que o bicho comia. Lá vai então um a correr a ver se ainda apanhava o almocreve para lhe perguntar que é que o bicho comia. Logo que o avistou perguntou cá de longe? Ò senhor, que é que o bicho come?
-Ora! Que é que o bicho come! Come do que come a gente !
O homem entendeu 'o bicho come a gente'. Passou parte ao povo, 'o bicho come a gente', e todos à uma se atiraram ao pobre bicchinho até darem cabo dele, e assim continuaram a ir todos os dias buscar a manhã, cada um conforme a sua escala.
(texto e imagem de augusto nunes pereira)
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