9 de novembro de 2004

O Sucessor de Yasser Arafat

Em primeiro lugar, Yasser Arafat não deve morrer: deve ficar vivo e consciente mas retirado da liderança.

O seu sucessor não deve ser um moderado. Sim, o seu sucessor não deve ser moderado pois se o for Ariel Sharon e/ou o Likud colocarão a pata ainda com mais força sobre os palestinianos e, nesse caso, nunca mais ninguém será capaz de controlar nem sequer minimamente os grupos militarizados palestinianos. Ariel e o Likud não são moderados e não têm vontade de deixar aos Palestinianos nem as piores migalhas do pior pão que tenha sido atirado para o lixo. Posto isto, o sucessor tem de ser capaz de uma grande e intransigente dureza em relação a todos os grupos armados palestinianos de forma a que qualquer eventual trégua com Israel possa ser mantida mesmo que em face de provocações israelitas.

Para que a transferência de liderança se proceda de forma legítima e aceitável pelos palestinianos, o sucessor deverá ser da confiança e, até, deverá ser escolhido por Arafat. Arafat deverá viver o suficiente para ser o back support do seu sucessor até este ganhar o respeito necessário para, no futuro, liderar sozinho.

Contra estas opiniões vem naturalmente a seguinte crítica: "com um sucessor desses fica tudo na mesma!". Ao nível da liderança palestiniana, é bom que fique quase tudo na mesma: o espírito combativo, a noção de nacionalidade e a firmeza da coluna vertebral. O que deve mudar, e é isso que se espera de um bom sucessor, é a rebeldia incontrolável dos grupos armados palestinianos e é o facto de, do lado palestiniano, haver um grande número de focos de poder não coordenados que retiram na prática autoridade à liderança palestiniana e tornam impossível que a Palestina venha a ser um Estado pois para a existência deste só pode haver um poder soberano (e não uma multiplicidade deles). Esta dispersão de poderes do lado palestiniano acaba sempre por dar um carácter de rarefação, de pouca solidez a qualquer posição tomada pela liderança palestiniana.

Uma crítica mais interessante à minha opinião é a seguinte: "o que seria verdadeiramente desejável é que tanto do lado israelita como do lado palestiniano surgissem líderes moderados". Se fosse possível que isto ocorresse simultaneamente, talvez fosse desejável. Mas o momento de substituição de Arafat não coincide com a substituição de Sharon, que continua solidamente na liderança de Israel. Um sucessor moderado ou fraco para os palestinianos implicará um recrudescer da avidez israelita e não o contrário.

Mas considerando que ambas as lideranças mudavam para sucessores moderados, seria esse cenário desejável? Sim se as maiorias das populações israelitas e palestinianas bem como dos principais focos de poder desejarem posicionamentos moderados dos seus líderes. É politicamente correcto dizer que sim, que essas maiorias desejam moderação, mas o que é determinante não é o que se diz mas os factos. Caso contrário, esses líderes durarão muito pouco tempo no poder.

Por outro lado, uma política moderada vinda de um líder moderado pode ser entendida como sinal de fraqueza, de incapacidade de defender os interesses de uma nação. Uma política moderada ou de concessão vinda de um líder forte e autoritário, habituado a não conceder, é muitíssimo mais credível. As concessões realizadas por um tal líder sabem menos a perda e nunca sabem a derrota. A retirada das tropas israelitas da Faixa de Gaza realizada por um Sharon é muito mais credível e definitiva do que se realizada por um Rabin.

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