8 de fevereiro de 2012

o mês da lampreia, parte 2 - a idade média


em agosto do ano passado, aproveitando a minha peregrinação anual ao festival de paredes de coura, regressei a barcelos e à sua biblioteca (e também aos amigos).
andava à procura de mais informação sobre o grupo de amigos do castelo de faria, uma ‘nobre’ associação entre o desejo sincero de recuperação do passado e a exaltação nacionalista, e do que mais tropeçasse pelo caminho.
como quase sempre me acontece quando procuro uma coisa, outra me aparece pelo caminho como se fosse uma ponta de um fio pronto para ser puxado.
e se há coisa que sempre sabe bem puxar por um fio, é uma boa lampreia...

no inventário dos bens do mosteiro de guimarães de 1059, aparecem as zonas pesqueiras de travasso (luzim, penafiel), terras doadas provavelmente por mumadona dias por alturas da sua doação em testamento da villa de luzim no final do primeiro milénio.
é nesta zona, e principalmente em rio de moinhos, onde o rei possuía muitos casais, reguengos e terras foreiras, que o dito foro era pago com metade (sim, 50% de imposto...) das lampreias pescadas.
em canelas (que tinha os seus bens divididos pelos mosteiros de paço de sousa, bustelo, salzedas, alpendurada e vila boa do bispo e ainda pelo omnipresente rei), o rei ficava com 1/4 de todo o pescado e, claro a primeira lampreia e o primeiro sável.
ainda nos mais antigos registos que encontrei sobre o nobre ciclóstomo, nas inquirições do rei afonso III de 1258 o assunto era mencionado.
nelas, o dito rei, mantendo a proibição que viria de afonso I, de proibir que fossem tomados aos barcelenses as suas embolhas (sacas de couro para o transporte de vinho) e as roupas das camas, decretava que as primeiras lampreias que se pescassem no cávado seriam para a sua mesa.
o concelho pagaria uma renda anual de 205 morabitinos e não se falava mais nisso.. excepto em janeiro por altura das lampreias, porque a primeira (e aqui o singular seria seguramente metafóricos) lampreia era mas as mesas reais.
ou seja, mesmo nos idos do século 13, o rei sabia que as coisas importantes eram aquelas com que se devia preocupar...

3 comentários:

João Roque disse...

Adoro lampreia e quando estive a dar aulas em Serpa, comia frequentemente, pois elas eram pescadas ali perto, no Guadiana, no conhecido "Pulo do Lobo", e era com redes grandes que os pescadores as apanhavam, presos por uma corda lá do alto...

Juvenal Nunes disse...

Estudos provam que a lampreia foi alimento comum a todas as mesas.
Nos dias que correm,não sei se por via da conquista do espaço, tudo parece ganhar asas e voar. Até as lampreias voam das nossas mesas e transformam-se em iguaria rara e dispendiosa, nalguns casos servidas em postas com espessura equivalente à de uma fatia de pão de forma.
Sinais,sem dúvida, dos tempos que correm...

Juvenal Nunes disse...

Sobre o assunto, digo ainda que uma casa aberta a público tem a obrigação de tratar o cliente,que bem paga as suas despesas,como uma pessoa.