6 de julho de 2011

O tempo das camélias



Ainda a tempo de fotografar as últimas camélias, capto-as para memória já que os ramos se encontram agora despidos. Apresentando um modesto porte, consistem na terceira tentativa – acredita-se que conseguida – de ver a planta vingar.
Não importa o facto de não perfumarem o jardim, pois são (opinião pessoal) das mais belas flores, tenham elas forte coloração ou sejam simplesmente brancas, as mais bonitas. As cameleiras lutaram, por diversas vezes, com as toupeiras que assolam o relvado envolvente ou com a aridez de um solo argiloso por várias ocasiões rectificado.
Sophia utiliza-as como marca de meses e anos a fluir em velocidade estonteante acelerando, com tal referência, o ritmo narrativo. Percorrendo o seu texto, damo-nos conta de um tempo que, implacável, passa da época das últimas camélias à fase em que os botões encantam o olhar de quem gosta de andar «de mão dada com as estações». Revisito com agrado as suas linhas pelo gosto das sensações visuais e temporais únicas, explicadas por uma marcante sensibilidade de prosadora-poeta.
Junto a uma roseira – essa sim de grande porte – para ela se inclinam, trazendo à lembrança uma quadra que o meu pai, com peculiar sentido de humor, me recitava em cumplicidades:
Uma camélia vaidosa
Roída pelo ciúme
Aproximou-se da rosa
P’ra lhe roubar o perfume.

A beleza das flores da cameleira – mesmo com os entraves trazidos pela natureza – leva-me a pensar serem os versos injustos : estas flores efémeras para nada precisam do perfume das rosas.

4 comentários:

jose quintela soares disse...

Recordei:

"Quando sofro possuo a Natureza configuro
até à exaustão o recesso da rocha
involuntariamente em que imagino
o gorjeio. Escolho repleta de camélias
a vereda sem nenhum resíduo alheio
só o das imagens da flor de lótus
vim até à vereda."

Fiama.

Especialmente Gaspas disse...

Que verso bonito :)

teresa disse...

Muito bonito, José Quintela Soares, Fiama consiste em mais um dos nossos motivos de orgulho.

Obrigada pela lembrança:)

teresa disse...

A quadra fazia-nos sempre sorrir, aliás, ainda hoje me traz boas lembranças:)