Um dos grandes problemas do século XX, que tem dominado,, gravemente, os artistas, os sábios e os costureiros, é, sem dúvida, a elegância feminina. .Não se trata, propriamente, da matéria biológica, mas de vestir, calçar, embelezar, estilizar a mulher com os mil atavios qu ela exige, ou nós inventamos, numa perpétua sedução de galantaria e de capricho.
Um dos mais importantes é a meia, que - ainda no século passado era considerada um. acessório íntimo. Quando, nos «bataclans» de Montmartre, Toulouse Lautrec pintava, ou desenhava bailarinas, a meia preta mantinha-se escondida nas saias espaventosas de rendas espumantes.
Foi preciso mostrá-las como um elemento coreográfico nervoso, obsessivo e rodopiante de ritmo.
Mais tarde, a saia começou a subir. Do rés-do-chão passou à sobreloja a medo, com receio da liberdadezinha, mas, depois, encorajou-se e escalou, acrobaticamente, as alturas do primeiro andar, do segundo, e, hoje, se ainda não atingiu as águas furtadas, não lhe faltará ‘muito.
Nós, os homens, resignamo-nos. Podíamos, talvez, com êxito, ter constituído uma liga de defesa, mas a rua, o teatro, o cinema, a moda, - o funâmbulo excêntrico do modernismo, os imprescritíveis direitos femininos, e, sobretudo, o — receio de parecermos ridículos, “botas de elástico”, quezilentos, impediram-nos de tal iniciativa, e, agora, confessamo-lo amargamente, e já é muito tarde.
“Elas não voltam para trás! Morrem com convicção, mas não se rendem”! No dia históricoem que Mistinguett segurou as pernas, as mais belas “in the world”, a humanidade compreendeu que a beleza não era, apenas, como cânone,( uns olhos doces, opiados de paixão, uma boca, rosa de Maio, fresca e vermelha, nem mesmo o pézinho delicado de Cendrillon em coturno de oiro, ou fechado nos versos de uma quadra... de ponto 35.
Havia mais alguma coisa a considerar, aquilo de que Camões falou com poético embevecimento, chamando-lhe “colunas de mármore”.
Mas o caso, agora, é mais sério. Trata-se de meias, daquelas finas teias róseas, cor de âmbar, de caoba, de sândalo, que a Eva lisboeta de 1949 não dispensa, seja qual for o ágio, a cerimónia ou o orçamento doméstico.
Efemeramente, ela ainda pintou as pernas, mas sem resultado. As cores não tinham luminosidade, calor, sangue, vida! E, depois, perdoem-nos as leitoras, era impossível por um processo assim tão barato gastar dinheiro, o que é, até certo ponto, uma obrigação deliciosamente feminina. Redobrou, então a loucura das meias, que já não são de seda algodão, de linho, mas de uma matéria preciosa, rara ainda nos laboratórios americanos, que se chama «nylon».
São as famosas meias de vidro, que, afinal, não se quebram, tão parecidas com as antigas — num antigo relativo — macias, sedosas, inconsutis, que estão a enlouquecer agora as lisboetas.
As vitrinas oferecem-nas numa tentação brilhante, e as mulheres, extasiadas, gulosas, tremendo de emoção, com as pupilas febris, namoram-nas, sofregamente.
Não falam noutra coisa pelo telefone, no chá, ou zumbindo como abelhas, na rua do Ouro, numa delícia voluptuosa -de fruto proibido... a X escudos o par. Ah, Se no Paraíso, em vez de maçã, houvesse uma dessas meias preciosas, tenham a certeza de que o destino humano seria outro!
Um dos mais importantes é a meia, que - ainda no século passado era considerada um. acessório íntimo. Quando, nos «bataclans» de Montmartre, Toulouse Lautrec pintava, ou desenhava bailarinas, a meia preta mantinha-se escondida nas saias espaventosas de rendas espumantes.
Foi preciso mostrá-las como um elemento coreográfico nervoso, obsessivo e rodopiante de ritmo.
Mais tarde, a saia começou a subir. Do rés-do-chão passou à sobreloja a medo, com receio da liberdadezinha, mas, depois, encorajou-se e escalou, acrobaticamente, as alturas do primeiro andar, do segundo, e, hoje, se ainda não atingiu as águas furtadas, não lhe faltará ‘muito.
Nós, os homens, resignamo-nos. Podíamos, talvez, com êxito, ter constituído uma liga de defesa, mas a rua, o teatro, o cinema, a moda, - o funâmbulo excêntrico do modernismo, os imprescritíveis direitos femininos, e, sobretudo, o — receio de parecermos ridículos, “botas de elástico”, quezilentos, impediram-nos de tal iniciativa, e, agora, confessamo-lo amargamente, e já é muito tarde.
“Elas não voltam para trás! Morrem com convicção, mas não se rendem”! No dia histórico
Havia mais alguma coisa a considerar, aquilo de que Camões falou com poético embevecimento, chamando-lhe “colunas de mármore”.
Mas o caso, agora, é mais sério. Trata-se de meias, daquelas finas teias róseas, cor de âmbar, de caoba, de sândalo, que a Eva lisboeta de 1949 não dispensa, seja qual for o ágio, a cerimónia ou o orçamento doméstico.
Efemeramente, ela ainda pintou as pernas, mas sem resultado. As cores não tinham luminosidade, calor, sangue, vida! E, depois, perdoem-nos as leitoras, era impossível por um processo assim tão barato gastar dinheiro, o que é, até certo ponto, uma obrigação deliciosamente feminina. Redobrou, então a loucura das meias, que já não são de seda algodão, de linho, mas de uma matéria preciosa, rara ainda nos laboratórios americanos, que se chama «nylon».
São as famosas meias de vidro, que, afinal, não se quebram, tão parecidas com as antigas — num antigo relativo — macias, sedosas, inconsutis, que estão a enlouquecer agora as lisboetas.
As vitrinas oferecem-nas numa tentação brilhante, e as mulheres, extasiadas, gulosas, tremendo de emoção, com as pupilas febris, namoram-nas, sofregamente.
Não falam noutra coisa pelo telefone, no chá, ou zumbindo como abelhas, na rua do Ouro, numa delícia voluptuosa -de fruto proibido... a X escudos o par. Ah, Se no Paraíso, em vez de maçã, houvesse uma dessas meias preciosas, tenham a certeza de que o destino humano seria outro!
Como elas são, Artur Portela, Livraria Popular Francisco Franco
2 comentários:
Coisas tão engraçadas: "... a Eva lisboeta de 1949...", e não se falar em outra coisa que não seja...meias de vidro?! :)) Outros tempos...
Este livro é um mimo:)
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