23 de maio de 2011

Declaro votar na novela...



Encontro este livro numa pilha, onde entre tantos outros, aguarda um possível dono.Encontrou-a.
Não conheço a colecção Amanhã, mas acho graça à iniciativa, ""Dez novelas, dez novelistas". A colectânea é dirigida por Miguel Cruz, a capa é de Bernardo Marques e corre o ano de 1934
O projecto é interessante: o leitor nomeia o melhor autor, enviando o boletim de voto para a editora e o autor premiado recebe mil escudos. O próximo volume previsto é o "Dez Repórteres, Dez Reportagens". Terá sido publicado? Entre os colaboradores contavam-se Norberto de Araújo, Reinaldo Ferreira e José Gomes Ferreira.
Entre os dez novelistas,  logo me encanta um muito jovem  José Rodrigues Migueis,  a um ano  de partir para o exílio, que escreve a novela "A A mancha não se apaga", que inicia assim: 
"“"Obrigado, doutor, estou bem aqui Está-se aqui bem. Doutor, eu sinto-me doente. Venho pedir-lhe um conselho, um remédio, uma palavra que me dê a calma, se a cura não é possível Há dois anos, há dois anos que sofro... Calado, escondendo o meu remorso e a minha dor. Dois anos! Não posso mais. Onde, me levará esta obsessão? Quero explicar-lhe.... Só dez minutos. Tem dez minutos para me ouvir? Ouça -me então. Seja indulgente. Eu não estou louco, ainda não estou louco. Não se trata duma aventura imaginária. Eu tenho a prova, trago-a sempre comigo, a horrível prova do meu erro ou do meu crime... Bem, bem, ouça-me então... Eu tinha um amigo, talvez o doutor se recorde, Norberto Mata, conheceu-o? Esse mesmo Quem o não conheceu? Pois bem, foi ele o meu melhor, talvez o meu único amigo. Conhecemo-nos em Gand, onde fizemos lado a lado os nossos estudos, ele o direito, eu a engenharia Não sei bem que nos ligou, talvez os contrastes dos  nossos caracteres, dos nossos interesses(...)"

1 comentário:

Carlos Rocha disse...

Mais uma vez parabens pela excelente descoberta e pelo seu contributo para o levantamento do património cultural português.