40 anos “sem” Mestre Almada.
Não.
40 anos “sempre” com Mestre Almada.
No mesmo hospital e no mesmo quarto onde Pessoa se despedira, quase incógnito, de todos nós (como bem recordou “divagarde” há poucos dias), Almada Negreiros seguiu-lhe o exemplo, a 15 de Junho de 1970.
Estranha coincidência.
Não.
40 anos “sempre” com Mestre Almada.
No mesmo hospital e no mesmo quarto onde Pessoa se despedira, quase incógnito, de todos nós (como bem recordou “divagarde” há poucos dias), Almada Negreiros seguiu-lhe o exemplo, a 15 de Junho de 1970.
Estranha coincidência.
"Devo a Fernando Pessoa (repito: pela primeira vez na minha vida) a alegria de ver noutrem a oposição e não o costumado contrário nosso alheio. Obrigado Fernando. Não há aqui de quê agradecer. Também o sei. Desculpe. É a afectividade. Carinho.
De parte a parte, em ambos nós nada havia de contrários pois que nenhum dependia dessas classificações engendradas a título social para o sossego e a comodidade de uns tantos. Não. Éramos poetas. Perdão: apresentávamo-nos para poetas. Antes de bons ou maus poetas bebíamos já ambos o delirante veneno de não pertencermos a nada e sermos cá. Partíamos logo desde o respeito muito bem pesado por tudo quanto a outros lhes era forçoso participar no quotidiano. Não ter este forçoso era o nosso carimbo de poetas. Mas para melhor fazer entender o carimbo, direi que isenção que significa poeta tem arrumo na nomenclatura social e na mesma palavra que faz de réu em desclassificado.
Foi neste momento que dei a Fernando Pessoa um pequeno papel muito dobrado e que ainda o dobrei mais deante dele. Desdobrou-o com o mesmo cuidado com que o dobrei, e leu: Quer o queiramos quer não, nós (o artista) estamos muito longe de pertencer à comunidade". Assinado: Cézanne."...
Almada Negreiros in "Orpheu".
(Imagem: Caricatura de Pessoa, por Almada).
5 comentários:
Excelente lembrança. Hoje, ao ligar o rádio do carro, relembrei uma vez mais a efeméride. Veio à memória Almada em entrevista no zip-zip, nem queria acreditar que mais de 40 anos tinham decorrido, de tal modo se encontrava nítida a sua imagem. Fica também um excerto das recomendações deixadas pelo grande mestre às gerações de XXI, embora todos saibamos que os grandes são intemporais e detentores de nítida visão a antecipar o futuro:
Virem contra a parede todos os alcoviteiros e invejosos do dinamismo!
Declarem guerra aos rotineiros e aos cultores do hipnotismo!
Livrem-se da choldra provinciana e da safardanagem intelectual!
Defendam a fé da profissão contra atmosferas de tédio ou qualquer resignação!
Façam com que educar não signifique burocratizar!
Sujeitem a operação cirúrgica todos os reumatismos espirituais!
Mandem para a sucata todas as ideias e opiniões fixas!
Mostrem que a geração portuguesa do século XXI dispõe de toda a força criadora e construtiva!
Obrigada pela referência deixada em 'post'.
Quer o queiramos quer não, nós (o artista) estamos muito longe de pertencer à comunidade
Almada, Cézanne... dos inspirados, o pintor, o artista mais maldito. O que, jogando com a imagem, mais rasga o preconceito e falsas morais. O que mais provoca e se antecipa.
Ao excerto da Teresa, apetece acrescentar Aquilino
[...]olhem sempre em frente, olhem para o Sol, não tenham medo de errar sendo originais, iconoclastas, e anti, o mais anti que puderem, e verdadeiros, fugindo aos velhos caminhos trilhados de pé posto e a todas as conjuras dos Velhos do Restelo. Cultivem a inquietação como uma fonte de renovamento.
E, porque não, trazer também Baudelaire... Jovem, embebeda-te. Vinho amor ou poesia, mas embebeda-te.
:)
Gosto deste conceito subjacente a '... não pertencermos a nada e sermos cá.’
Hoje, de cada vez mais, faz sentido o sentir de Almada manifesto no seu Ultimatum Futurista
A imagem não será antes um desenho de Júlio Pomar?
Não, caro António Lino.
Pomar tem, efectivamente, alguns "retratos" do grande Poeta, mas este que publiquei é de Almada Negreiros.
Enviar um comentário