15 de junho de 2010
À conversa com utensílios domésticos
Há épocas do ano em que tudo se torna mais exigente, parecendo não terem fim as incómodas tarefas burocráticas que, aparentemente e em inicial visão naïf, nada teriam a ver com práticas profissionais alicerçadas em relações humanas.
O excesso de papelada (despachos, decretos, ofícios e afins) têm o efeito de potenciar miragens de férias, sonhando-se com o verde interminável da paisagem que já nem quase se observa, mesmo quando, através da janela, a serra se oferece generosa, aos nossos olhos. Não existindo traços comuns com a vicentina Mofina Mendes a fazer castelos no ar, o idealizar de certos locais acaba por ser isso mesmo: algo que teima em chegar . A meta final parece inalcançável apesar de se encontrar a poucos metros… Por mais que se tente a serenidade, torna-se inevitável fazer pontes com temas como este , tendo acabado uma mensagem (mais ou menos subliminar) por ser transmitida (imagine-se!) através de um pano da loiça… Mas um pano da loiça com uma estória especial por se prender com uma idílica viagem de amigas e jovens alunos até às Highlands e em curso de férias (obrigada pela lembrança, Inês!). Tendo reflectido no caso, o mesmo não se revestiu de significativo alarmismo (a tal conversa com um pano da loiça não levará, decerto, os meus superiores a proporem-me férias antes do prazo) dado ver com frequência na estação ferroviária ou no parque de estacionamento alguns semelhantes a tentar travar diálogos com as máquinas de venda de bilhetes ou de pagamento (“então, hoje estás com manias, não?” ou “ai não me dás o troco, é?”). Fica, pois, uma despretensiosa tradução muito livre do poema presente neste utensílio doméstico por hoje me ter chamado à realidade pessoalmente desejada:
Uma vida a correr/ Sem tempo para parar e ver
Sem tempo para olhar o prado/ Onde pasta o sereno gado
Cruzando bosques em passos velozes/ Sem perceber onde os esquilos escondem as nozes
Sem tempo para ver a luz solar/ Ou cascatas de estrelas a cintilar
Sem a beleza observar/ Não olhando seus pés a dançar
Sem tempo de ver a beleza a sorrir/ Quando começam seus olhos a luzir
Triste vida a correr / Sem tempo para parar e ver
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2 comentários:
Obrigado Teresa!
Mesmo a propósito.
Ainda bem que gostou,caro Miguel Gil. Penso que o tema «férias» reune alguns consensos:)
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