11 de março de 2010

HÁ 35 ANOS

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O coronel Durão, que era comandante do Regimento de Pára-Quedistas de Tancos no dia 1 de Março foi, por despacho do juiz Joaquim Dias, da Polícia Judiciária Militar, mandado apresentar no Estado Maior da Força Aérea.
De acordo com o despacho do referido juiz, e segundo notícia publicada no insuspeito jornal “O Dia”, o coronel Durão não é passível de ser considerado como “possível implicado”.
Não vamos afirmar que o Coronel Durão seja ou não implicado, nem contrariar o douto despacho do juiz Joaquim Gomes, que lá terá as suas razões para decidir.
Só queremos chamar a atenção das pessoas para este facto: não houve qualquer 11 de Março. Acreditem que não houve nada. Foi tudo uma alucinação. Tal dia nem sequer existiu no calendário. O mês de Março de 1974 só teve 30 dias, porque o dia 11 não existiu. Foi inventado pelos comunistas.
O coronel Durão era comandate dos pára-quedistas e o facto de duas companhias terem vindo até Lisboa cercar o RAL 1 sem ele ter conhecimento nem ter dado ordem é uma pura invenção. Os rapazes nem sequer saíram de Tancos.
É certo que há uma reportagem filmada pela televisão no local mas, dada a maneira como o referido órgão de Comunicação Social estava ao tempo manipulado, ninguém nos garante que aqueles repórteres não tivessem inventado os pára-quedistas. De certeza que eram falsos.
Quanto a bombardeamentos nem pensar. Andaram de facto uns aviões e uns helicópteros a sobrevoar o RAL 1, mas só lançaram flores.
O soldado Luís morreu porque o calor dos primeiros dias de Março deve ter estalado alguma telha e o jovem, que estava a dormir a sesta, foi atingido.
Se aquilo fosse uma unidade discipluinada e o soldado Luís àquela hora andasse na aparada a treinar continências aos superiores hierárquicos, ou a limpar os amarelos, nada lhe aconteceria.
E quem inventou que o general Spínola tinha ido para Tancos mais uma data de civis, e fugido depois para Espanha com dois helicópteros?
Porventura está provado que o soldado Luís morreu vítima de um bombardeamento?
Porventura está provado que o ex-general Spínola alguma vez se tenha ausentado do País?
É ou não verdade que ele tem estado sempre na sua casa de Belas escrevendo memórias?
Então, se nada disto está provado, como é que pode haver implicados no 11 de Março? Ou mesmo 11 de Março?”

Em “Diário de Lisboa”, 9 de Junho de 1976

8 comentários:

Carlos Caria disse...

Esta história o 11 de Março nunca foi bem contada.
Eu vivi ao vivo - desculpem o pleonasmo - estes acontecimentos em Leiria onde prestava serviço militar no Ral 4, e recordo que pelas 10 da manhã de 11 de Março com os acontecimentos a decorrer em Lisboa, já circulavam notícias sobre o ocorrido em impressos fabricados em gráfica na noite anterior. Isto é que era prespectiva dos acontecimentos.
Só um comentário pois nunca percebi bem a treta.
Ab amizade
C Caria

carlos disse...

parece que estivemos os dois no ral4 em leiria ao mesmo tempo...
seguramente 'viveste' muitos acontecimentos 'pouco normais' nesse periodo...
era muito comum nesse tempo, no ral4, à noite já existirem comuicados sobre os acontecimentos do dia.
existia um grupo bastante activo que mal saía do quartel ia tratar de escrever e imprimir em 'stencil' num último andar do prédio que, creio, tinha uma empresa de transportes rodoviários.
esse comunicado do 11 de março, tanto quanto me lembro (foi escrito por uma linha bem diferente da minha) falava sobre a previsão, do ponto de vista político, dos acontecimentos que vieram a mostrar-se verdadeiros.
era a grande época da 'contagem' de espingardas.
como o meu grupo estava contra todas essas contagens, conseguimos uma vez num plenário no refeitório, rejeitar qualquer das propostas que os oficiais nos proposeram e fazer aprovar uma terceira, não prevista inicialmente, de... votar contra as duas propostas, já que não nos queríamos abster porque tínhamos opinião...
o ral 4, de outubro de 74 a abril de 75 era um 'campo minado' :)

e, por acaso, lembro de um caria por lá....
:)

gin-tonic disse...

Tanto o 11 de Março, como o 28 de Setembro, são peripécias tão incriveis que parecem ficticias. Supõe mesmo que o Woody Allen, ou o Mel Brooks, recusavam-se a fazer filmes sobre estes acontecimentos.
São datas que a nossa História regista e é importante, pelo menos, fazer esse registo.
A não ser que surjam documentos, que até hoje, se desconhecem, a História do 11 de Março está contada.
O resto é a memória que se vai apagando.
"Pátria para sempre passada, memória quase perdida", escreveu em 1880 Eça de Queiros frase que que Almeida Faria coloca, como epígrafe, no seu romance "Lusiânia", onde se relata, "num tom ora picaresco ora dramático" os acontecimentos que vão de Abril de 1974 a Março de 1975.

ié-ié disse...

A essas duas datas, junta também o 25 de Novembro!

Passei-as todas no tropa, o 11 de Março no Estado-Maior do Exército, o 28 de Setembro no RI 14 (Viseu) e o 25 de Novembro no COPCON.

Não creio que a História registe como letra grande estas pequenas golpadas.

Com a letra grande sim, a maior, estará o 25 de Abril (também estava na tropa, na EPI, em Mafra).

LT

Carlos Caria disse...

Pois é Carlos o Mundo é pequeno, e se calhar estivemos antes do Ral 4 de Janeiro a Abril de 1975, no RI7 de Outubro a Dezembro de 1974.
Muitas histórias se escreveram sobre esse período umas verdadeiras outras inventadas, quem não se lembra das inventonas.
Agora os artistas são diferentes mas o palco é o mesmo.
Ainda me lembro do stencil e da Gestetner e do cheirinho a tinta.
Aquele abraço de bons tempos vividos.
Carlos Caria

carlos disse...

mmmmmmmm o caria :)

claro que sim!
estivemos juntos de outubro a dezembro do ri7 :)
ao longo destes anos todos perdi todos os contactos do grupo de leiria (ainda me lembro de um que apareceu uns anos depois como mago na televisão..).
aquele tempo, principalmente os 3 meses do ral 4 davam muitas histórias, principalmente de como um grupo relativamente pequeno pode ter uma influência decisiva num quartel com imensa gente.
acho que tenho uma foto numa célebre semana de campo que recusámos fazer e acabou apenas com um 'ir num dia e vir do outro' para cumprir as normas.
estávamos todos sentados em frente a uma nada protocolar fogueira com ar de guerrilheiros de barba.

Carlos Caria disse...

Esta aldeia global é mesmo muito pequena.
Também perdi os contactos. O único que vejo com frequencia isto é na TV é o actor Virgilio Castelo, que também fazia parte do grupo tal como o Ascenso etc etc.
Havemos de nos encontrar um dia destes para tratar das memórias.
Entretanto fico por aqui no blogue com histórias com vida.
Abraço amizade
Carlos Caria

carlos disse...

uesim :)
o virgilio castelo todos o vemos, mesmo que ele não nos veja..

mas temos que marcar um encontro para matar saudades :)
vamos mantendo o contacto por aqui...

um abraço daqueles :)