14 de fevereiro de 2010
Carnavaladas - I
(imagem: flickr.com)
Na infância íamos até Torres Vedras. Um grande amigo de família que se dedicava à lavoura convidava-nos e, ainda crianças, era um divertimento participarmos no desfile, por entre os outros carros do corso, na caixa de uma camioneta, lançando cocotes carnavalescos. Para quem não saiba em que consistem, são pequenos sacos de colorido papel de seda contendo, no seu interior, grainhas de uvas muito bem compactadas. Posso garantir que são pequenas armas quando lançadas com força, tendo uma delas provocado um «olho à belenenses» numa das crianças que fazia parte do nosso grupo de mascarados.
Olhando para a mudança de tendências observável nas fantasias infantis recordo termos, no passado, escolhido indumentárias de índio, cowboy, cozinheiro (os meus irmãos), tendo sido as minhas de egípcia, chinesa, sevilhana...
Já na época aquela confusão enorme me incomodava um pouco. Quadra de excessos, recordo um automóvel, à entrada desta cidade, enfeitado de enormes cadáveres de roedores (a que tenho uma fobia indescritível) enfiados em arames a sair do capot.
Actualmente e onde trabalho, o Carnaval é posto em prática mal termina o Natal. Penso ser assim por motivos ancestrais na região. Apesar de regras rígidas na escola, a miudagem consegue transportar às escondidas ovos, farinha e balões de água que- fintando a vigilância – são utilizados como munição de guerra.
Como melhor tradição da região saloia, fazem parte as filhós de Carnaval, cuja receita é típica da terra. A massa é adocicada, parecendo-me ter como base a receita de pão feito com farinha escura. Tal hábito de doçaria regional não faz parte das localidades hoje suburbanas, sendo tal doce comercializado nas aldeias e freguesias ainda marcadamente rurais.
Penso que a contaminação – em versão minimalista – dos desfiles brasileiros tem vindo a esvaziar de identidade o nosso tão português Carnaval de cabeçudos e gigantones.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
5 comentários:
Subscrevo....esse "carnaval" importado nao fazia cá falta nenhuma...
Sim, o Carnaval antigo tinha alguma graça coisa que este não tem.
É verdade, perde-se muito com as 'fracas imitações'. Deveríamos manter o que nos individualiza, dando força ao slogan 'o que é nacional é bom':)
Já passei um Carnaval não há muito lá para o nosso Nordeste e gostei da tradição dos 'caretos'.
Bom!!!! e nós cá estamos!!!!! No dito Carnaval mais português de Portugal!!!!
Ouço, lá mais no centro, o barulho dos foliões...e pela janela espreito as nuvens que ameaçam chover!!!!
Alguns mascarados chegam...ainda!!!! Outros ainda descansam da noite anterior e restabelecem forças para mais logo!!!!
Que seja um bom Carnaval!!!!
Torres Vedras (e, mais propriamente, a aldeia de Carvalhal que lhe é próxima e, no Verão, Santa Cruz) fazem parte das minhas alegres memórias infanto-juvenis.
Bom Carnaval, Avelaneira:)
Enviar um comentário