5 de dezembro de 2009

Ribeiro Sanches : para além do médico, o pedagogo

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Alguns vultos da nossa cultura pouco têm sido destacados de modo a que fiquem na memória colectiva. É o que sucede com este homem que gostaria de aqui deixar referenciado não como médico eminente , mas sobretudo como pedagogo, tarefa impossível sem as interessantíssimas conversas com o professor Rogério Fernandes cujo trabalho exaustivo sobre a História da Educação em Portugal e indissociáveis reformas educativas ao longo dos séculos constituirão precioso referencial. Fica, pois, com os devidos agradecimentos a este estudioso que gosta de partilhar com simplicidade os seus alargados conhecimentos, o modesto registo na tentativa de manter um pouco mais presentes figuras importantes da nossa cultura:
António Nunes Ribeiro Sanches nasceu em Penamacor em finais do século XVII.
De ascendência judaica, deixou Portugal (como tantos judeus da sua época) tornando-se discípulo do holandês Boerhave com quem actualizou muitos dos conhecimentos clínicos. Catarina da Rússia acabou por recrutá-lo como médico para os seus exércitos, o que o levou a radicar-se em S. Petersburgo. Na biblioteca da cidade ainda hoje se encontram manuscritos seus, embora algumas anotações pessoais já tenham sido arquivadas no nosso país, bem como na biblioteca de Madrid.
Ribeiro Sanches foi igualmente um grande pedagogo, apesar de em Portugal pouca referência lhe ser feita nesta qualidade. Deixou no seu legado estudos inovadores sobre Educação.
Com o anti-semitismo a crescer na Rússia e tendo atingido a situação de reforma, acabou por se fixar em Paris.
Espírito esclarecido, o seu nome encontra-se associado a enciclopedistas como D’Alembert e Diderot, tendo com eles colaborado na redacção de textos científicos.
Já na capital francesa no ano de 1759, recebeu a notícia das reformas educativas do Marquês de Pombal. Na cidade-luz redigiu então as Cartas Sobre a Educação da Mocidade, associando de modo inovador o ensino ao desenvolvimento económico e social. Influenciou as medidas educativas postas em prática pelo ministro de D. José I .
Estas diligências em prol do desenvolvimento da educação em Portugal conduzem-nos ainda a um outro nome: o de Luís António Verney. Este último apresentou uma perspectiva diferenciada (e mais lúcida em opinião pessoal) relativamente a Ribeiro Sanches: enquanto que Sanches defendeu uma educação exclusiva das classes privilegiadas, Verney – menos “ouvido” em Portugal – defendeu o alargamento da escola a alunas do sexo feminino (até então as raparigas de famílias favorecidas poderiam aprender a ler, mas nunca a escrever, por justificações que dariam matéria para um tratado), bem como às classes sociais mais carenciadas.

6 comentários:

Maria Clara Lino disse...

Excelente, querida amiga e colega, Teresa Cunha! Como grande mulher que és, deixas aqui um grande tributo a grandes vultos, já desaparecidos, da História da Educação e a um que, estando ainda entre nós, dia a dia, aula a aula, nos vai aguçando o espírito e a vontade, de saber cada vez mais sobre História da Educação e não só... o grande Professor Doutor Rogério Fernandes.
"O saber não ocupa lugar".
Um obrigada a todos os que aqui referi.
Maria Clara Lino

teresa disse...

Olá Clara,

Grande não sou (1,60), mas agradeço as restantes palavras e o prazer de conhecer este professor.

Afinal também lhe prestei um tributo (já que não tenho a sebenta de há uns anitos, a tal com 2 edições e que tu já tens autografada)...

Bjinho e até 6f:)

teresa m disse...

Olá Teresinha,
obrigada pelo teu texto. Écurioso que quando Ribeiro Sanches foi referido tive um pensamento "recolhido" que o teu desafio me leva a expôr. De facto parece que Educação diz respeito a todos e todos dela podem falar com mais ou menos pertinência, quiça enciclopedistas como aquele. De facto Ribeiro Sanches,como cidadão culto deu o seu contributo, expressou sua opinião, apesar de não fazer parte do seu domínio científico, perdeu tempo e gastou penas com uma área da vida das sociedades a que deu importância, correlacionando-a com o desenvolvimento e a ideia de progresso, numa perspectiva classista, é certo. E nós - hoje - manifestamos alguma admiração por isso como se nas trevas da pré história social, domínio do (con)forme e do preconceito se manifestasse uma chama.
Hoje, e lá vem o pensamento recolhido, quando professor/a é notícia, tb todos sabem de Educação e saiem a terreiro opinando. Nas Ciências da Educação até lhes chamamos, atentos e reverentes, os "opinion makers". Cá por dentro, irritam-nos profundamente, apostados que estão em participar da nossa profissionalidade, eles sim, sem prova de acesso à profissão e nem sempre os apreciamos e à sua assertividade generalista. Será que é o domínio que é a-científico ainda hoje e a biografia pessoal comum de "educados" os/nos leva a intervir como doutos? De facto, quem menos se ouve são os estudiosos das Ciências da Educação, quase que envergonhados de o serem ! Què pasa, amigos...?

teresa disse...

Quanto ao teu repto final, amiga e homónima, há em múltiplos quadrantes 'treinadores de bancada', não será só em Educação...
Relativamente a Ribeiro Sanches, acredito que o caso não terá sido tão grave no respeitante a este particular - pondo de parte a 'enorme' questão de não querer a reforma generalizada a classes desfavorecidas e a alunas, só a rapazes -dado ele ter sido, ao longo da vida, aluno e professor.
Só te consigo responder com uma pergunta já tornada lugar-comum: será a maioria dos 'opinion makers' formada por pessoas que entram com regularidade nas escolas públicas? É que sabes bem do nosso esforço (falo do teu caso e do meu que conheço) para que as famílias entrem regularmente nas escolas.
Remetendo para o nosso experiente professor, saliento uma frase que lhe ouvi por diversas vezes:«nos primórdios das Ciências da Educação cá pelo país, éramos encarados como uma espécie de 'feiticeiros' pelos que se arrogavam das ciências exactas embora, com serenidade, déssemos continuidade ao nosso trabalho, inclusive visando a formação de futuros professores das ditas ciências».
Não sabendo se o meu cometário fará para ti sentido, desejo-te as melhoras e espero ver-te em breve:)

Unknown disse...

Uma pessoa fica sempre sensibilizada quando, por meio de uma aula (coisa quase sempre chata...) acha uma réplica noutras pessoas. Agradeço os imerecidos elogios mas contenta-me que o Ribeiro Sanches fique recordado. Obrigado a todas. Bom fim de semana. Rogério Fernandes.

teresa disse...

Não é para agradecer, professor, e as aulas passam sem que se dê por isso, tal é a novidade de tanta e tão interessante informação.

As melhoras da sua constipação e um excelente fim-de-semana.