
O “Éden”, um lindíssimo edifício concebido pelo arquitecto Cassiano Branco,
abriu as portas no dia 1 de Abril de 1937 e durante a 2ª guerra Mundial foi o cinema mais concorrido de Lisboa. No dia 31 de Dezembro de 1989 exibiu “Os Deuses Devem estar Loucos-II” e não mais voltou a ser cinema.
A 1 de Outubro de 1996, o IPPAR considerou o edifício como Imóvel de Interesse Público.
A Câmara Municipal de Lisboa tentou, por diversas vezes, manter o “éden” como espaço para iniciativas de carácter cultural, mas não havia dinheiro e os mecenas não apareceram.
O edifício veio a ser recuperado pelo arquitecto Frederico Valsassina.
Em 28 de Novembro de 1996 foi inaugurada uma megastore da “Virgin”, mas foi sol de pouca dura. A “Virgin” viria a fechar, não resistindo ao tsunami da FNAC que secou tudo em sua volta – livrarias, discotecas… mesmo a “Virgin”, coisa que o Sr. Richard Branson ainda está para saber como lhe aconteceu…
Hoje é um hotel de luxo e por lá também se encontra a Loja do Cidadão.
O antigo edifício, na sua parte térrea, albergava a “Livraria Clássica Editora”, o Café e restaurante “Aviz” – apenas servia café de Timor, como se podia ler em placards nas paredes - e era poiso de gente ligada aos meios tauromáquicos e aos sportinguistas, que são gente conhecida pelo seu existencialismo torturado, e ali se reuniam. Os lampiões designavam o local como o “muro das lamentações”. Ao lado, a caminho do Palácio Foz ficava o “Cinema Restauradores”, um verdadeiro “piolho”. Fechou ainda antes do “Éden” deixar de ser cinema e no seu lugar a CUF abriu uma loja destinada à venda de carpetes e alcatifas.
O “Éden” não terá sido dos mais amados cinemas de Lisboa. Uma assistência, principalmente nas matinées, a atirar para o manhoso, afastavam algum público.
Mas no “Éden” viu inúmeros filmes, mas um não esquece: “Bonnie & Clyde” de Arthur Penn, na sessão nocturna de 15 de Dezembro de 1967.

Infelizmente não tem nem o programa, nem o bilhete. Pensa que já aqui contou a história: quando saiu de casa dos pais, deixou na despensa uma série de caixas de sapatos com bilhetes de futebol, cinema, outras coisas. Passados anos, a mãe pensando que aquilo era lixo, para o lixo deitou as caixas, e no lixo ficou uma enorme fatia da sua vida de cinéfilo e benfiquista.
Não recorda outro filme que, ao tempo da sua estreia em Portugal, tivesse provocado tanta polémica. Envolveu os críticos da especialidade e também alguma intelectualidade, como José Régio, Eduardo Prado Coelho, Mário Dionísio, Nuno Bragança, Natália Nunes, Bernardo Santareno. Até a circunspecta e silenciosa Agustina Bessa Luís desceu a terreiro. Em artigo, publicado no "Diário Popular"de 18 de Janeiro de 1968, começava por dizer:"Eu não pensava dedicar a este assunto uma só linha, mas acho injusto e leviano não o fazer."
Curiosamente, ou não, a polémica deixou praticamente de lado o brilhante filme de Arthur Penn (espantosas interpretaões de Faye Dunaway e Warren Beatty) para incidir sobre o seu carácter violento – “Eles são jovens, estão apaixonados e matam gente” – e a cena final, uma das mais espantosas que o cinema encenou, a morte de Bonnie e Clyde, cravejados de balas de metralhadora, caindo em câmara lenta, horrorizou as mentes das ratas de sacristia, que acusaram o filme de instigar os jovens ao crime e à violência..No fundo, a velha querela entre o Bem e o Mal.

O programa do “Éden” aqui apresentado, regista a reposição, em 3 de Junho de 1976, de “Quo Vadis” de Mervyn Leroy, com Robert Taylor, Deborah Kerr, Peter Ustinov. Num fim de página podia ler-se que sua exibição não era aconselhável a menores de 13 anos.
1 comentário:
Belo post Gin....neste cinema perderam-se muitas das minhas memórias, detalhes fabulosos de arquitectura, soluções técnicas avançadas para a época em que foi construído e, uma das mais belas obras de Cassiano....
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