6 de maio de 2009

Música, palavras e traduções

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Gosto de vocábulos e da sua livre associação na escrita e no quotidiano. O ímpeto interpretativo de temas da música anglo-saxónica terá sido, a título pessoal, das melhores lições, não menosprezando excelentes professores ainda hoje na memória.
Apesar de uma coisa ser a música e outra as palavras, não pude deixar de me vincular de modo mais significativo com as canções que interagiam, ou seja, não se limitavam à melodia, importante para quem estudou música por gosto , mas que transmitiam ideias fortes, factor de igual importância (Bach à parte). Apesar me ter cruzado com temas da cultura psicadélica presentes na literatura de autores como Burroughs , sempre fui mais sensível às palavras de um “The Times They Are a-changing” do que de “Lucy in the Sky with Diamonds”.
Não pude, por tal motivo, deixar de constatar muito cedo a simplicidade demasiado repetitiva de algumas ideias ajustáveis à melodia.
Constituiu diversão de juventude a tradução livre e humorada de algumas lyrics por parte dos jovens da vizinhança.
Recordo um amigo que já cá não se encontra a cantar, em versão livre, o Vicious de Lou Reed num nonsense de fazer inveja a qualquer britcom.
Todo este preâmbulo tem como intenção a defesa de uma ideia- as traduções (de canções ou não) , por muito limitados que os textos sejam, podem sempre respeitar o que eles contêm de mais expressivo.
Quando refiro “limitados”, não pretendo aludir a uma simplicidade de conceitos, a reforçar esta ideia encontram-se temas distantes no tempo ou na região de origem que se cingem à repetição de um ou dois conceitos e nos transportam para um mundo onírico. Em opinião pessoal, a limitação cinge-se às tais ideias encaixadas de forma algo forçada em músicas que vendem. Para além disso, há ainda traduções que em nada engrandecem a melodia. Estes pensamentos surgiram quando, casualmente, me deparei com letras dos Beatles e dos Stones traduzidas para Português. Seleccionei unicamente uma delas (em parte), a fim de demonstrar como pode uma tradução aligeirada estragar a força um tema.
E segue um exemplo que, não tendo um texto empobrecedor, acaba por ficar estragado por ausência de preocupação estética:

The Beatles
Composição: Paul McCartney
Deixa Estar

Quando eu me encontro em tempos difíceis
Mãe Mary vem pra mim
Falando palavras de sabedoria, deixa estar
e nas minhas horas de escuridão
Ela está em pé bem na minha frente
Falando palavras de sabedoria, deixa estar.
Deixa estar, deixa estar.
Sussurrando palavras de sabedoria, deixa estar.
E quando as pessoas de coração partido
Morando no mundo concordarem,
Haverá uma resposta, deixa estar.

(...)
(e não foi acidental a alusão a Kurt Weill pela "força" dada à palavra)

2 comentários:

Anónimo disse...

hoje, por alguma coindicência estranha, vinha a ouvir o whole lotta love (uma das melhores canções com que o rock nos brindou) e lembrei-me das noites de queluz a cantar esta música pelas ruas com a letra do 13 de maio... e a virgem a gritar avés marias
:)

teresa disse...

Acontece que depois de ter descoberto estas traduções, o que parecia nonsense fica reduzido à normalidade, eis um fragmento criativo de Stairway to Heaven:
"Se há um alvoroço em sua horta
Não fique assustada
É apenas limpeza de primaveril da rainha de maio"
(quando há alvoroço entre as couves, costuma é ser lagarto ou sapo):)