23 de abril de 2009

Livros ou filmes? Devemos escolher as leituras dos jovens?

A questão surgiu por há dias me ter lembrado que, durante a juventude, não existia lá em casa qualquer atitude de censura quanto às leituras escolhidas. Chegava à estante e retirava um livro, mais ou menos ao acaso... quase sempre agradavam e eram lidos rapidamente. Muitas vezes, a escolha seguinte prendia-se com o fascínio já causado pelo autor, outras, era aleatória.
E foi assim que surgiu esta leitura no início da adolescência (recordo igualmente uma outra, relato de um preso norte-americano na cela a aguardar execução). Penso que hoje, escolhas como estas incomodariam muitos pais, não me competindo a mim ajuizar se terá sido positivo ou não. De qualquer modo, o texto representado por uma imagem do filme tratou-se de uma leitura de fim de dia com paragem no último ponto final motivo pelo qual, o filme visionado mais tarde, não se terá revestido do mesmo interesse.
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Durante seis ou sete voltas mantive-me em terceiro lugar e a assistência começou a berrar para nós passarmos para a frente. Eu estava com medo de fazer essa tentativa. Um par que seja rápido só pode ser ultrapassado numa curva, e isso exige um enorme dispêndio de energia. Até ao momento, Glória estava a portar-se bem, e eu não queria exigir muito dela. Eu não estaria preocupado enquanto ela tivesse força para se deslocar à custa da sua própria energia.
Horace McCoy, Os Cavalos Também se Abatem
Quanto ao filme que se segue, marcou sem dúvida mais do que o texto que não conheço na íntegra. Talvez pelo facto de o primeiro contacto ter sido com a fotografia. Ficou o fascínio da realização, do enredo e, sobretudo, das paisagens (será a Sardenha?), com vontade de um dia - se possível - poder conhecer, ao vivo,tal cenário.
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Diálogo entre o poeta e o carteiro que sonhava em escrever versos:
Agora vais até à Calheta pela praia, e enquanto observas o movimento do mar vais fazendo metáforas.
- Dê-me um exemplo.
- Olha este poema: “Aqui na ilha, o mar, e quanto mar. Sai de si mesmo, a cada instante. Diz que sim, que não, que não. Diz que sim, em azul, em espuma, em galope. Diz que não, que não. Não pode estar quieto. Chamo-me mar, repete pegando numa pedra sem conseguir convencê-la. Então com sete línguas verdes, de sete tigres verdes, de sete cães verdes, de sete mares verdes, percorre-a, beijando-a (…) e bate no peito repetindo o seu nome.” – Fez uma pausa satisfeito. O que achas?
- Estranho.
- “Estranho” . Que crítico severo és tu!
- Como se pode explicar? Enquanto dizia o poema as palavras iam de cá para lá…
- Como o mar, claro! Isso é o ritmo.
- E eu senti-me estranho, porque com tanto movimento enjoei.
- Enjoaste?
- Claro! Eu ia como um barco balançando nas suas palavras.
- “Como um barco balançando nas minhas palavras.” Sabes o que fizeste Mário?
- O que foi?
- Uma metáfora.
Antonio Skármeta, O Carteiro de Pablo Neruda

5 comentários:

T disse...

Eu li o primo Basílio com páginas seladas por fita cola! Mas anteriormente havia liberdade que foi cerceada quando eu, aos 8 anos e a ler a Servidão Humana desencadeei a seguinte questão, à mesa do almoço familiar: pode uma senhora ter filhos sem ser casada? Porquê? Como?
Escusado dizer o desenlace. À conta disso lia todo o Jorge Amado, Irving Wallace e demais proibidos na casa de banho e escondia o livro no roupeiro. Em adulta contei a história à minha mãe. Pelo sorriso dela, penso que ela sempre soube.

Unknown disse...

Há metáforas lindas!

teresa disse...

Eu não precisava de me esconder, T. Todos viviam tão atarefados que a questão nem se colocava. Um dia, já estudava em Lisboa, ao entrar no gabinete de trabalho do meu pai, é que me apercebi o porquê dele chegar tão cansado: é que tinha 3 telefones mesmo ao lado que, por vezes, tocavam ao mesmo tempo. A minha mãe ainda era do tempo em que passados poucos dias do nascimento de um filho se retomava o trabalho e ela dava aulas em 2 escolas diferentes e não próximas. Penso que a parte boa de tanta canseira foi a de nos ter dado desde cedo uma certa autonomia.

teresa disse...

rosarinho,
mas a expressão aqui designada como metáfora "como um barco..." é realmente uma comparação como se pode confirmar pelos alfarrábios:)

Unknown disse...

Sis,
I know... :-)