24 de abril de 2009

CAMINHADA PARA ABRIL


24 de Abril de 1974

Quando o país bocejante se deitou, só alguns dos seus habitantes, muito poucos, sabiam que esta não seria uma noite igual a tantas outras, seria mesmo uma noite invulgar
Quando os espectadores que assistiram à “Traviata”, começaram a sair do Coliseu, já João Paulo Dinis na emissão do Rádio Peninsular dos Emissores Associados, tinha enviado o primeiro sinal para os militares: “Faltam cinco minutos para as 23,00 horas. Convosco, Paulo de Carvalho com o Eurofestival 74 – E Depois do Adeus”
O “Diário de Notícias” há-de dizer que um Coliseu repleto de público assistiu a uma récita da “Traviata” com Alfred Kraus e que consagrou Joan Sutherland e que a récita terminou em delírio colectivo, com ovações intermináveis e inúmeros cravos atirados das frisas.
O mesmo “Diário de Notícias” publica na 1ª página um editorial com o título: “Balas de Papel”. Terminava assim:
“Só nós, Portugueses, somos senhores do nosso destino. E estamos tão estoicamente empenhados na defesa dos lusos territórios ultramarinos, como preparados para enfrentar as batalhas de opinião, desencadeadas – sabe-se lá – por que interesses feridos ou conveniências não acauteladas…
Parece-nos, entretanto, oportuno prevenir os franco-atiradores dispersos pelos países amigos, de que não receamos as balas de papel – como não tememos as outras. Elas não conseguirão desalojar-nos das atitudes assumidas e das posições tomadas.”
Logo pela manhã, Otelo Saraiva de Carvalho desloca-se à estação dos CTT da Estefânia, de onde envia para os Açores o telegrama codificado que combinara com Melo Antunes, com a data e a hora do golpe: “Tia Aurora parte Estados Unidos 250300. Primo António.”
Em conversa telefónica com um dos seus ministros, que lhe dá conta dá conta de movimentações militares, Marcelo Caetano terá dito “ “Isso é mais um boato desgastante”
Marcelo Caetano no seu “Depoimento”, publicado no exílio no Brasil, escreve que “a
Revolução veio efectivamente de surpresa.”
Para o dia 25, os serviços de meteorologia previam: “Céu pouco nublado, por vezes muito nublado; vento fraco de norte; possibilidade de trovoada e aguaceiros”
Nos primeiros vinte minutos do novo dia, no programa “Limite”, transmitido pelos emissores da Rádio Renascença, o locutor Leite de Vasconcelos dirá a primeira quadra de “Grândola, Vila Morena” e começam a ouvir-se aqueles passos cadenciados na estrada que anunciam que “o povo é quem mais ordena, dentro de ti ó cidade.”:
O navio de sonhos largara do cais de silêncio rumo à estrela polar.
Saberemos, depois, que vamos poder sorrir sem amargura.

3 comentários:

ruinzolas disse...

Faço uma sugestão: colocares a série de posts "Caminhada para Abril" num blog criado apenas para esse efeito.
Acho que foi uma maneira muito interessante de postar sobre o 25 de Abril.

Anónimo disse...

Lembro-me bem desse dia apesar de ter nessa altura os meus 9 anos. Na manhã do 25, a escola mandou-nos pra casa cerca das 10 da manha. Fui o caminho todo a correr pra casa. Ali na Cavaleiro de Oliveira só se ouviam helicopteros a sobrevoar. Já em casa, passamos o dia a ouvir notícias no rádio.
E lembro-me das manifestações nos dias seguintes e de andar na rua com o meu pai o os meus tios no meio de uma multidão. Foram momentos marcantes.

teresa disse...

O que encontro de interessante nestes posts do gin sobre o 25 de Abril, são detalhes que desconhecia.
Quanto à capa deste LP, sempre foi das preferidas pela criatividade e cor.