6 de março de 2009

NUMA DE COZINHEIRO SUECO DOS MARRETAS

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Volta e meia faz uma tachada, ou uma fritada e reúne os amigos Um dia pediram-lhe receitas para um “blogue” de culinária. Não tem receitas próprias. Ao acaso, por vezes, junta receitas e faz de todas uma só. Por vezes resulta por outras tem que ir à despensa buscar uma latinha de atum ou de salsichas. Mas insistiram e acabou por enviar a receita de uma sopa maluca que, por sinal, já aqui foi divulgada, ainda ele não pertencia à equipa, apenas comentava o que por aqui iam “postando” Recupera essa receita antecedida do texto que enviou para o amigo:

Pediste-me receitas. Como te disse, não sei por onde começar.
Até hoje, toda a minha vida tem sido um improviso e não seria por causa da culinária que deixaria de ser assim.
Quando era miúdo, atraído pelos cheiros e antegozando os sabores, enfiava-me na cozinha a ver a minha avó materna a cozinhar. Talvez tenha sido aí que, inconscientemente, se meteu por mim adentro a ideia de um dia mexer em tachos e panelas.
A malta do meu tempo, os mais velhos também, tem a noção e o privilégio de saber o que é a comida de casa, feita pelas avós, pelas mães. Os cheiros, os sabores eram diferentes. Comidas simples mas bem confeccionadas, insuportavelmente domésticas, banais, mas a saberem a comidinha.
Em casa do meu pai fome nunca houve mas a comida era, com variantes saídos da imaginação delirante da minha avó materna, sempre a mesma coisa. Fazia autênticos prodígios, a minha avó. Comia-se o que a mercearia fiava, o velho rol - e então era: arroz, massa, feijão, grão, ovos, chouriço, toucinho, bacalhau, que naqueles tempos era a comida dos pobres, o célebre bacalhau a pataco. Mas havia criada e a minha mãe não trabalhava.
Um alentejano de Estremoz disse-me um dia: a cozinha é uma coisa tão fácil que se torna difícil. Mesmo quando faço comida por receita não as sigo. Murmuro de mim para comigo, que aquelas coisas, que me estão a dizer para assim fazer, não rimam, tornam a comida apaneleirada e passo a inventar.
Tenho a ideia que a cozinha é uma questão de tempo, produtos de qualidade e nunca fugir aos temperos. Tempo para temperar e esperar. Tempo de colocar o tacho, a panela, a frigideira, em lume lento, e não abandonar a função. Podem-se ir fazendo outras coisas, mas sempre na cozinha, não perdendo de vista os tachos, as panelas, as frigideiras. Não se abandona a função para ir aspirar a casa ou para ir ver o resumo alargado do Benfica.
São as coisas que aprendi, por aqui e por ali. Saber que se pode começar a cozinhar por uma série de razões mas também por cultura. E gosto, acima de tudo, das comidas que se cheiram antes de serem vistas e comidas.
Como vês, pediste-me receitas e conto-te histórias.
Mas não resisto a colocar aqui uma receita: a da sopa de feijão que levei para a Bica, para a festa do nascimento do teu sobrinho Francisco. Tenho a ideia que já fiz centenas e centenas de sopas de feijão. A cada uma a minha sogra tem o hábito de dizer que é a melhor sopa de feijão que comeu até hoje.
Esta passará a ser designada por a

SOPA DO FRANCISCO

Ingredientes
Feijão manteiga, em lata
Paio do lombo
Chouriça
Farinheira
Unhas e Orelha de porco
Cebolas, batatas, cenouras, nabos, couve portuguesa e couve lombarda
Massinha
Azeite

Preparação
Põem-se as unhas e a orelha a apanhar sal, no mínimo 12 horas.
Passam-se por água, para retirar o sal, e cozem-se juntamente com o paio e a chouriça. Quando cosidos retiram-se.
Põem-se as cebolas, as batatas, as cenouras, os nabos, na água onde se cozeram as carnes e os enchidos. Quase no fim da cozedura junta-se o feijão. Passa-se tudo muito bem e juntam-se as couves, a cenoura e o nabo, cortados aos bocadinhos, a massinha, um foi de azeite e deixam-se cozer.
Num tacho põe-se água a ferver, quando estiver em ebulição, apaga-se o lume e põe-se dentro a farinheira.
Cortam-se, em bocadinhos, o chispe, desossado, a orelha, o paio, a chouriça e juntam-se ás couves e restantes legumes, instantes antes de estarem cozidos.
Apaga-se o lume e juntam-se alguns feijões que se reservaram. Também pedacinhos da farinheira a que, previamente, se retirou a pele.
Normalmente, para que não se pegue ao fundo, cozo a massinha à parte e junto quando a sopa estiver quase pronta.
Rectifica-se o sal.
Descansa breves momentos em panela tapada.
Pode-se perfumar com coentros aos bocadinhos.

1 comentário:

teresa disse...

Que post delicioso no sentido literal do termo.
É certo que cozinhar é aliciante por ter tanto de inventivo. No entanto, temos uma "private joke" familiar sobre a minha mãe. Ele é tão inventiva que, entre os três irmãos, apelidamos alguns dos pratos que confecciona como "free cooking":)