
Após ter olhado rapidamente para o jornal do dia, um acontecimento despertou a minha atenção: completam-se hoje os 100 anos do nascimento de Carmen Miranda.
Tecendo o fio da memória, não pude deixar de lembrar que, no presente ano, completar-se-ão os 105 anos do nascimento da minha avó, uma das mais importantes referências desde a idade da consciência.
Percorrendo rapidamente a biografia da famosa cantora que não conseguiu conviver em paz com a sua rápida ascensão, não pude deixar de cruzar alguns pequenos dados – perdoem-me a ousadia – entre duas mulheres.
A cantora deixou-nos antes dos 50 anos de idade, a minha avó deixou-me aos 92.
Ambas ganharam o seu primeiro salário numa casa de chapéus – Carmen numa loja do Rio; a minha avó terá ganho o primeiro e muitos dos salários que se lhe seguiram num idêntico estabelecimento, mas na Rua da Prata.
Uma não soube resistir às adversidades; a outra sempre lhes fez frente, tendo sido uma lutadora incansável que nunca reclamou dos dissabores inesperados que foram surgindo pelo caminho.
A ponte entre ideias transportou-me ainda ao filme de Agnès Varda realizado em 1976 cujo título é“Uma canta, a outra não”, e ainda à frase de Simone de Beauvoir evocada no final da longa metragem na tentativa de trazer sentido à película: “Mulher não nasce, torna-se”.
( para não ser injusta, a avó também cantava na sua voz afinada, mas frágil, modinhas brasileiras dos anos 30 enquanto passava a ferro)
8 comentários:
Espero que tenhas lindo a excelente biografia do Ruy de Castro sobre a Carmen:)
Engraçado ainda ontem li essa frase da Castor, enquanto terminava a biografia recente dela e do Sartre.
Tudo se cruza:)
Quando à tua avó, tem disponíveis excelentes e amorosos biógrafos:)
«A muié quando não qué nem na porta ela sai
Se a gente bole com ela: "olhe que eu conta a papai!"
Mas a muié quando qué espera té no vizinho
Se a gente quer ir-se embora: "fica mais um bocadinho!»
Carmen Miranda
Gostei muito de escutar as três senhoras a cantar: a autora do texto; a avó e o mito natural de Marco de Canavezes.
Só agora espreitei os vossos comentários e, como diria a "nossa" Amália: "obrigado, obrigado, obrigado" (mesmo com incorrecção na concordância do Português)... deixei falar mais os afectos do que o intelecto...:):):)
Adenda ao comentário da T: não li a biografia do Ruy de Castro, mas despertaste-me o interesse - fica já na lista de actividades "urgentes" a realizar por gosto:)
Posso emprestar. Já emprestei ao VV e C:)
Ok, T.
Se mo quiseres emprestar... sou cuidadosa e devolvo sempre os livros!
:)
Subscrevo o post na íntegra. Felizmente tivemos a sorte de partilhar esta Avó tão querida e especial!
Acrescento apenas: O reportório, não o da Carmen, mas o da nossa avó benvisto, não se ficava pelas modinhas brasileiras mas incluía um conjunto de músicas popularizadas pelo teatro de revista dos anos 30 e 40 e de outros temas populares da época, de fazer jus ao espírito do DQV.
Tenho uma pena imensa de guardar na memória apenas escassas estrofes.
Garanto se as conseguisse reproduzir aqui, fariam tanto sucesso como as fotos que por cá vão aparecendo.
Quanto ao empréstimo lá vou ter eu de fazer de correio :O). Mas subscrevo é uma biografia muito bem escrita e interessante que recomendo vivamente.
Olá brother,
Espero que já estejas a 100% (se fosse a "nossa" Maria José, diria a 30% que era o topo da escala).
Tens razão, esta avó só com muitas narrativas conseguiria ser retratada e, mesmo assim, muito ficaria por dizer, pois as palavras nem sempre comunicam:)
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