11 de fevereiro de 2009

SESSÕES DA MEIA-NOITE



Não aprecia as afirmações definitivas mas poderia dizer que o cinema foi o primeiro elemento de magia na sua vida. Só depois vieram os livros e a música.
Nestes dias, que vão sendo de modorra e arrastamento, tem andado a tentar por alguma ordem nos Himalaias de papelada que anda por aqui. Uma tarefa inacabável, por muito que rasgue, arrume. Hoje passou os olhos pelo “Cinéfilo” e sorriu quando leu os anúncios das maravilhosas sessões da meia-noite.
Quando havia sessões da meia-noite, quando havia cinemas, mas cinemas mesmo, e não esses caixotes implantados em centros comerciais.
Quando se podia andar a pé pelas ruas no fim das sessões da meia-noite.
Quando havia tascos abertos até às 4, 5 e 6 da madrugada,onde se podiam comer berbigões, bitoques, beber imperiais, “penaltys” de tinto, e já com o dia a clarear, alguém a lembrar o penúltimo copo. Sim, penúltimo, porque o último é só na hora da morte.
Quando, nesses tascos, se fumava e ninguém reclamava da fumarada das cigarrilhas “Alto” compradas avulso – 12$50 é o último preço de que se lembra.
Sem termos consciência de o sabermos, éramos felizes!
Estas são algumas das “Sessões da Meia-Noite” anunciadas pelo “Cinéfilo” para uma semana de Outubro de 1973:

O “Londres” no dia 5 exibia “À Beira do Abismo” de Howard Hawks e no dia 6, do mesmo Hawks, “Ter ou Não Ter” o tal filme com o Humphrey Bogart e a Lauren Bacall quando esta lhe diz: “se precisares de mim assobia, sabes assobiar não sabes?
O “Apolo 70” no dia 7 exibia “Frenzy” de Alfred Hitchcock
O “Mundial” no dia 6 “Divórcio à Italiana” de Pietro Germi.
O “Politeama” exibia no dia 6 “A Última Vítima” de Gene O’Connoly.
O “Apolo 70” no dia 11 exibia “As Quatro Noites de Um Sonhador” de Robert Bresson e no dia 12 “Jerry 8 ¾” de Jerry Lewis.
O “Berna” exibia no dia 13 “O Pequeno Grande Homem” de Arthur Penn”
O “Londres” exibia no dia 12 “Céu Aberto” de Howard Hawks e mais dizia o”O Cinéfilo”: “um filme sobre a amizade viril, a aprendizagem (do amor e doutras coisas). Além disso é neste filme que Hawks consegue finalmente filmar com Kirk Douglas a cena do dedo cortado que John Wayne se recusara a filmar em “Rio Vermelho”.
O “Vox” exibia no dia 14 “Uma Noite na Ópera” de Sam Wood.
O “Apolo 70” no dia 18 exibia “Alexandre Nevski” de Eisenstein, e a 19 “A Condessa de Hong Kong” de Charles Chaplin.
O “Londres” a 19 continuava com Howard Hawks e exibia “El Dorado”.
A 24 o “Império” às 18,30 horas tinha uma sessão especial com “O Homem Que Matou Liberty Valance”de John Ford.
No dia 18 no “Jardim Cinema” o Cine Clube Imagem exibia às 18,40 horas “Corações na Penumbra” de Richard Brooks e podia ler-se: “Tenessee Williams revisto pelo democrata Brooks. Um filme admirável, jogado entre verdes anos de paixão e os fantasmas que pairam na noite americana.”

Foi nestas sessões da meia-noite que viu grande parte dos clássicos do cinema. Também os viu nas sessões dos Cine-Clubes mas isso já é uma outra história.

3 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia Gin-Tonic,

Com este seu post, vim forçosamente recordar parte da minha adolescência, com as várias salas de cinema, há altura a trabalharem em pleno, tal como disse e bem, um Apolo 70, Jardim Cinema ( o palhinhas ),Alvalade,Berna,Avis,Castil,Condes,Cinearte,Éden,Estúdio,Estúdio 444,Europa,Império,Monumental ( não quero mentir,mas parece-me que ia para o 3º balcão ),Pathé ( ex Imperial ),Politeama,Roma,Roxy ( Lys ), Satélite,Vox,Tivoli,Odeon,Salão Lisboa,Olímpia e muitos mais.

É engraçado, que haviam dois cinemas que eu já não recordava, o Berna e o Vox.

Gostei francamente do post.

Tenha um óptimo dia e mais, com Sol.

Fernando

teresa disse...

Nem vou comentar salas de cinema ou filmes, mas sim o encantamento trazido pelo cartaz aqui "postado": só poderia ter sido criado na época, a imagem trouxe-me à memória o musical "Hair", tão "seventies" e, já agora, uma boa arrumação de papelada tarefa infinda, pelo menos na parte que me toca:)
(não entendi a referência publicitária a Caetano Veloso no cartaz)

gin-tonic disse...

A observação é pertinente, Teresa. As sessões da Meia-Noite não têm nada a ver com o Caetano Veloso. O propósito da ilustração apenas visava apresentar uma capa do “Cinéfilo”, na sua II série, constituída por 37 números. O 1º número saiu em 30 de Setembro de 1973 e custava 7$50, o último saiu em 22 de Junho de 1974 e continuava a custar 7$50. É dificil voltar a reunir uma equipa como aquela em que o Cinema, o Teatro, a Rádio, a Música, o Bailado e etc. eram tratados com competência e profissionalismo A equipa de colaboradores também era de primeira água. Tudo possível graças à inteligência, ao "savoir faire" do seu director: o realizador de cinema Fernando Lopes. O chefe de redacção era o António-Pedro de Vasconcelos.
Acontece que todos os números do “Cinéfilo” que possui estão encadernados em dois grossos volumes. Tentou o “scanner” mas não conseguiu nada de jeito, nem mesmo em fotografia. Esta foi a única capa do “Cinéfilo”, encontrada na “net” . Aliás é uma lindíssima capa publicada a escassas semanas de acontecer o 25 de Abril.