Tendo plena noção de que se todos tivéssemos acesso a uma efectiva igualdade de oportunidades e não se destinando o post a apoucar, mas sim a constatar o facto de poder ser o idioma pátrio uma inesgotável fonte de criatividade, seguem algumas frases testemunhadas em presença ou divulgadas por amigos e conhecidos ao longo da vida:
Dos apontamentos de um estudante estrangeiro a fazer curso de Verão na Faculdade de Letras de Lisboa: “pronome pessoal, 2ª pessoa do singular: 'tu ou pá'; “pronome pessoal, 3ª pessoa do singular: 'ele, o gajo ou o tipo' ”.
- Lá está ela outra vez a “martelizar” a criança… (considerei o termo criativo, pois associei-o a martirizar com martelo, embora as crianças o não mereçam)
- Como não a vi cá por casa, “seduzi” que estivesse em reunião até tarde. (esta passou-se comigo e esforcei-me por me portar bem, mantendo uma expressão idónea)
- Experimentei uma nova receita: peixe gratinado no forno com molho “Chanel”. (aqui podemos constatar o conceito de culinária com “griffe”)
- Ou o pai é prepotente ou a mãe esméril, por isso não há transcendência. (penso que a frase pertencerá ao domínio da metafísica, matéria na qual me considero leiga)
- A escola onde anda o meu filho tem muita segurança, nas entradas e saídas usam um cartão de banda magnésia. (trata-se de um novo conceito que associa a medicina ao choque tecnológico socrático)
- Perto da minha casa, abriram uma creche …não, os miúdos têm até 5 anos… penso que é um orfanário! (pobres crianças e como deve ser o local pouco apelativo)
- Está a dizer que tenho falta de chá? Mas eu não preciso disso para nada, o meu marido ganha muito bem para eu poder beber café com leite! (aqui lembrei-me do “Casino Royal” e daquela personagem que estava sempre a pedir o seu “cafezinho cooom leite”!)
Como gosto sempre de espreitar “ambos os lados “ da questão, considero ainda mais divertida a posição dos puristas da língua quando defendem que não se diz “pijama”, mas sim “fato completo para dormir”; não se diz “batôn” , mas sim “carmim para lábios” e ainda uma infinidade de expressões que me irei abster de listar.
E por aqui me fico, para não tornar o texto demasiado fastidioso.
Como curiosidade, fica ainda referência ao facto de ter sido o culto Afonso III, O Bolonhês, responsável por um acordo ortográfico “avant la lettre”: a substituição do n com til por “nh” no idioma pátrio, bem como do "ll" por "lh".
8 comentários:
Olá,
Seduzi que terias um novo post, por isso vim espreitar.
Por aqui, continua o tempo de chuva. Tenho a roupa no estandarte há 3 dias e não seca.
O que me vale é que tenho uma boa televisão afónica, que me distrai um pouco nestes dias cinzentos. :-)
:):):)
Nota 20, amiga!
Aguardo um "trufunema" teu lá para as 13h:)
(as televisões afónicas são as minhas preferidas, pelo menos não poluem tanto)
"Ó professora, o texto que me deu tem um erro, não se escreve 'os animais pululam, mas sim 'pulam'e a professora que até nem costuma dar erros...":)
Teresa, muito bom dia.
Acabei de ler o seu post, e sinceramente tenho que lhe dizer que fartei-me de rir sózinho, principalmente, com a célebre frase:
Experimentei uma nova receita:
Peixe gratinado no forno com molho " Chanel ".
Está o máximo.
Um bom dia, para si.
Fernando
"Fastidioso", uma ova!De certza, certezinha que existirão muitas mais, Teresa, e que deverão ser divuilgadas e não apenas ficarem no caderninho. Não que estas coisas sejam propriamente para rir, mas servem para ilustrar os pontapés diários que a língua portuguesa vai sofrendo e mais irá sofer. Talvez não a desporpósito lembra-se de um título do "Público": "O futebol pesa mais do qua a língua na ligação dos emigrantes portugueses ao país de origem".
Pontapés na bola, pontapés na gramática...
A olhar a chuva, fica na expectativa de mais histórias...
Em pausa "pós-prandial", venho aqui responder aos vossos comentários:
Gin,
O título do "Público" é realmente antológico, não o conhecia... o antigo Fernando Pessa era implacável para com essas tiradas. Para ser franca, a maioria destas frases, à excepção da do estudante estrangeiro que me foi divulgada enquanto aluna pelo falecido ex-professor Mário Dionísio, foram proferidas em fase anterior à massificação do ensino por pessoas com pouca frequência escolar. Actualmente, os disparates são de outro calibre, pois nem sempre se consegue "cativar", na acepção de Saint-Exupéry no diálogo entre o Pincipezinho e a Raposa e fora dos muros da escola temos sérios concorrentes;
Fernando,
a do molho "chanel" também é das minhas preferidas, já agora acrescento uma outra da mesma autora (lembrei-me logo dessa quando a T aqui referiu ter comprado uma "cloche" de cozinha): "gosto de cozinhar na 'galocha' porque poupo gás".
Agora a criatividade assume outras dimensões e, para os maiores crentes em todas as notícias de jornal, o que não será o vosso caso, posso garantir que nem eu nem os colegas que prezo transmitem estas ideias peregrinas.
A árvore genealógica já deu azo a 2 versões (que eu conheça) bastante curiosas: "árvore geológica" e "árvore ginecológica":)
Teresa,
Quando o caro Gin-Tonic, diz no seu comentário, " que estas coisas não são propriamente para rir, eu não sou da mesma opinião.
Primeiro, não estou a gozar, seja com quem fôr. Respeito os comentários, de todos, mesmo não estando rigorosamente de acordo, com alguns deles.
Segundo, Teresa, fartei-me rir de manhã e agora, depois do seu novo comentário, ainda não parei de rir com a:
" árvore geológica" e a " árvore ginecológica ".
Um abraço e os meus parabéns,
Fernando
Caro Fernando:
A frase que ele escreveu não tinha qualquer sentido censório e não o visava, nem a ninguém, em particular. Pode e deve rir, ele também o fez. O que se pretendia dizer - mas faltou-lhe o jeito - é que podemos rir com estas coisa sa mas tendo em vista que é sempre aquele riso amargo, porque estamos perante uma lamentável realidade, com todas as indicações de que vai piotar... e muito!
Um abraço
Caro Gin-Tonic,
Estamos totalmente esclarecidos e aproveito, para lhe agradecer a amabilidade, com a prontidão que me respondeu.
Desde já, desejo-lhe a continuação de um óptimo dia, para si.
Fernando
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