6 de novembro de 2008

UM FILME DE QUANDO EM VEZ


Deixou de ler o “Público” há uns atrás. Não por que o considere um jornal mal feito, mas porque tem um director insuportavelmente execrável. O Sr. Belmiro de Azevedo tem estudos internos e saberá, por certo, que grande parte dos leitores que abandonaram jornal o fizeram por aquilo que o director escreve. Mas o dinheiro é do Sr. Belmiro e o “Público” para aqui é chamado apenas se deve ao facto de há pouco mais de um ano ter publicado uma colecção de filmes de Marilyn Monroe, a que só faltou “Os Inseparáveis”.

Se há filme de que gosta mesmo, um daqueles que levaria para a tal ilha deserta, “O Pecado Mora ao Lado” é um deles. Fabuloso filme de Billy Wilder, genial mesmo. Diálogos bem construídos, de uma graça desconcertante, humor a jorros, uma espantosa interpretação de Tom Ewel e uma fabulosa interpretação de Marilyn Monroe.

O filme está fortemente marcado por uma das cenas mais famosas de toda a história do cinema: a saia branca de Marilyn que esvoaça pela brisa que sai por uma das saídas de ventilação do metro. “Sente a brisa do Metro? Não é delicioso?” diz Marilyn para um espantado Tom Wel, de mãos nas algibeiras e chapéu puxado para trás.





Por esta fabulosa cena, Billy Wilder passou as passas do Algarve com Marilyn. Conta ele: “Marilyn Monroe nunca chegava a horas. Nunca. Claro, eu tinha uma tia em Viena que chegava sempre a horas a tudo, mas quem é que a queria ver num filme?”
Marylin esquecia os diálogos com frequência e houve cenas que tiveram de ser filmadas umas 40 vezes.
Para que o ramalhete ficasse bem composto, por causa da cena do levantar da saia, Joe DiMaggio pôs fim ao casamento com Marilyn. Na cena inicialmente filmada em Manhattan, Marilyn usou um biquini transparente que deixou a multidão presente nas filmagens tão extasiada quanto DiMaggio ficou furioso. O biquini era tão transparente que Wilder teve que refazer a cena em estúdio porque as imagens mostravam muitíssimo mais do que o código Hayes permitia
A história é muito simples: Depois de enviar a sua mulher e o filho de férias para o Maine, Richard Sherman (Tom Ewel), um editor literário de meia-idade, casado há sete anos, prepara-se para se portar mesmo bem e, enfrantar sozinho o quente Verão de Manhattan. Mas uma sedutora modelo mudara-se para o apartamento no andar de cima. Está uma noite de calor escaldante, o tal verão de Manhattan. Marilyn, na varanda, rega as plantas, mas deixa cair um vaso com um tomateiro para o terraço de Richard. Este passa-se, positivamente,




dos carretos, mas quando vê a face de Marilyn, no meio das flores, convida-a para tomar um bebida. Ela aceita e diz-lhe:

“- Vou à cozinha vestir-me.

- à cozinha?

- Sim! Quando está calor guardo a roupa interior no congelador.”

Tom corre para dentro de casa e começa a imaginar que, para criar o ambiente perfeito, vai pôr um disco. Talvez o 2º andamento do concerto para piano de Rachmaninov , “o velho Rachmaninov nunca falha,” e ela exclamará: «Rachmaninov: My favourite!».
Depois a cena em que ele, efectivamente, tem Marilyn Monroe na sala para a tal bebida. Põe o disco e ela pergunta:

“- É musica clássica não é? Percebi porque não tem vozes”.

Dito isto, um juvenil e cativante bocejo surge-lhe na cara e desata a embeber batatas fritas na taça de champanhe.

E X T R A

Crónica de Ferreira Fernandes no “Diário de Notícias” de 22 de Setembro de 2007

.”A política alemã Gabriele Pauli defende que os casamentos sejam válidos só por sete anos. No fim desse período, marido e mulher terão de dizer se "sim", ou "não", estão dispostos a prolongar o contrato. Muitos alemães vêem com simpatia esses sete anos de experiência. Duvido haver tal simpatia em Portugal e isso, suspeito, por razões culturais. Desde logo, Camões com o seu "Sete anos de pastor Jacob servia..." Se bem se lembram, sete anos, ali, é um hino à perenidade do amor (amando Raquel, o pastor foi casando com as irmãs dela, por sete anos, na esperança do jackpot). Ora as estatísticas desmentem Camões e confirmam a alemã Pauli: sete anos é a data perigosa em que os casamentos murcham. Não o sabemos por razões, repito-o, culturais: traduzimos tolamente os títulos dos filmes. Ao filme que nos contava isso, com Marilyn Monroe, chamamos-lhe O Pecado Mora ao Lado. Ora, o título original era The Seven Year Itch (A Comichão do Sétimo Ano)”.

2 comentários:

AnaMar (pseudónimo) disse...

...Delicioso este filme. Revi-o enquanto recuperava de uma intervenção cirúrgica e espantei-me com o facto da roupa no congelador. O espanto está em que, eu , desde que me lembro, em Verões quentes, guardo a minha camisa de noite...dentro do congelador. Ainda o faço. a minha mãe preocupava-se com a minha (in)sanidade mental. O meu marido tem daqueles gestos de tolerância mal disfarçada, ede que já não há nada a fazer...
:-D

Anónimo disse...

É umas das actrizes mais carismáticas de que existe memória... tenho todos os filmes (Os possíveis) em que ela participa. "O pecado mora ao lado" é uma comédia cheia de graça do princípio ao fim!!! Era uma actriz com uma presença muito forte e que chegava ao público com uma facilidade incrivel...Tinha um brilho muito próprio!!! Mário F.