17 de novembro de 2008

ENTRE LES MURS - A TURMA



Quando é exibido um filme do cinema europeu, sinto sempre uma expectativa e enorme curiosidade em correr às salas de cinema dado que a americanização da sétima arte nem sempre nos consegue surpreender por um conjunto de técnicas e lugares-comuns repetidos até à exaustão.
Foi com agrado que, no início do passado mês, aceitei o convite do jornal Público para assistir à exibição, em ante-estreia da película Entre les Murs actualmente em exibição em diversas salas de cinema.
O filme, inspirado no romance homónimo de François Bégaudeau, revela-se uma narrativa de excessos que os muros das escola dificilmente conseguem conter.
O muro enquanto simbologia da separação entre culturas, gerações e saberes, torna-se delimitação numa escola dos arredores pobres de Paris.
No dizer de António Nóvoa, especialista em Ciências da Educação, a escola dos nossos dias encontra-se “a transbordar”, vendo-se os seus profissionais confrontados com tarefas de pais de subsituição, psicólogos, técnicos de serviço social, sem que nunca para tal tenham sido preparados. Coloca-se aqui a questão: serão essas as incumbências da escola? Deverão ser transferidas para os estabelecimentos de ensino funções que muitas instituições e o próprio Estado não se mostraram, até à data, capazes de assegurar?
A situação torna-se visível quando um grupo de professores tentam, entre si, uma angariação de fundos a fim de que uma mãe asiática, imigrante ilegal, não seja remetida para o país de origem, sendo o seu filho um dos melhores alunos da turma.
Também se reflecte em grupo de professores acerca da expulsão de um aluno problemático de origem africana, pois o pai ameaça remetê-lo como punição para a aldeia de origem nos confins de África.
Apesar da multiculturalidade do grupo e da dificuldade de gestão de conflitos, o professor de língua francesa e director de turma tenta, ao longo de um registo quase documental, flexibilizar estratégias a fim de motivar a uma participação e a um desempenho de sucesso.
Película intimista, vivendo de grandes planos, acaba por nos fazer reflectir em fenómenos como a multiculturalidade e a massificação do ensino, medidas indiscutivelmente defensáveis, mas que ainda não conseguiram ser asseguradas de um modo mais justo e eficaz numa sociedade caracterizada por uma diversidade de culturas e de saberes.

7 comentários:

Anónimo disse...

E eu que achava que não iria ver o filme por sentir que se trataria de um "dejá-vu" estou a reconsiderar agora.

teresa disse...

Cara amiga,
"olhe que vale a pena"!(não tenho comissões na sugestão)
:)

gin-tonic disse...

Hoje em dia ser professor é uma situação de risco. Quão longe estamos do que sentia o poeta e professor Sebastião da Gama e que deixoi expresso no seu “Diário”: “Então a gente anda aqui tão feliz e no fim do mês ainda nos dão dinheiro”.
Não se sente minimamente documentado para entrar numa discussão tão problemática como o ensino. Apenas uma leitura, de quem está de fora, o leva a pensar que, principalmente o que está a falhar é o trabalho de casa. Pais e filhos não conversam, não comem refeições juntos. Depois cada divisão tem uma televisão: para o futebol, para as novelas, para os telejornais e os quartos dos miúdos têm “playstations”.
Não quer de modo algum pretender dizer que antigamente é que era bom etc. e tal. Mas é um facto que as coisas eram diferentes e com isso aprendemos.
Resta saber como, com os nossos filhos, não conseguimos por em prática alguma dessa aprendizagem. Saber o que terá falhado…

T disse...

TEresa se quiser colocar fotos maiores ponha.
Tem o Picasa?

teresa disse...

gin-tonic,
Como vão longe "os dias" de Sebastião da Gama.
T,
Não, não tenho o picasa e costumo, por afeição, utilizar um computador jurássico que tenho na minha mesa de trabalho. Mesmo assim, penso que consigo "postar" fotos maiores (apesar de ser quase... uma infoexcluída).
Num próximo post irei tentar colocar fotos de maior dimensão.

T disse...

Consulte este post primeiro:
http://diasquevoam.blogspot.com/2008/07/para-postar-imagens.html

Beijinhos:)

Anónimo disse...

Tks, T. Logo que tenha um tempinho vou recorrer à sugestão de "reciclagem tecnológica".:)