I
Comprei na FNAC uma antologia de Haiku ...em francês.
Traduzo-te um de Kimura Toshio ( 1956 - ) :
eclipse da lua -
lamento
este haiku que me escapa
E pedes-me tu que eu escreva um livro ... quando ando, desde há uns tempos, a pensar numa forma literária como o haiku. Se Borges dizia que o mundo está destinado a acabar num livro, a plasmar-se num livro ( será que foi ele ? ), então o meu suposto livro está destinado a ser um haiku. Um só ... 17 sílabas ... que digam tudo o que mil livros poderão dizer ... Um haiku que seja como aquelas palavras mágicas que criam mundos inteiros ... um haiku que sugira livros inteiros em 17 sílabas. Como vês, esta canícula não me faz bem. Desperta o alquimista que há em mim. Em busca de uma pedra filosofal ... o haiku perfeito, um poema borgesiano que é ele mesmo e todos os outros ao mesmo tempo. Mais que chegar ao fim desta busca, é a viagem, o percurso que me parece interessante ... uma pitadinha de Corto Maltese.
Esta antologia de poesia japonesa veio relembrar-me esta ideia do haiku ... e depois, fiquei também um bocado siderado pelo prefácio à antologia ... mas isso fica para um dia destes.
II
Kahlil Gibran (1883-1931) : não sei se conheces ... libanês de nascimento, viveu nos EUA e escreveu em inglês e árabe.
Vou tentar fazer-te a tradução do início de The Madman (1918) :
" Perguntas-me como me tornei um louco. Foi assim que aconteceu : um dia, muito antes de muitos deuses terem nascido, eu acordei de um sono profundo e descobri que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas - as sete máscaras que eu tinha feito e usado em sete vidas. Corri sem máscara através das ruas apinhadas , gritando : ' Ladrões, ladrões, malditos ladrões ! '
Homens e mulheres riam-se de mim e alguns correram para suas casas com medo de mim.
E quando cheguei à praça do mercado, um jovem, de pé no cimo de uma casa, gritou : ' Ele é um louco.' Levantei os olhos para o ver ; e, pela primeira vez, o sol beijou a minha face nua. Pela primeira vez, o sol beijou a minha face nua e a minha alma estava inflamada de amor pelo sol e eu já não queria as minhas máscaras. E, como num transe, gritei : ' Abençoados, abençoados os ladrões que roubaram as minhas máscaras ! '
E assim me tornei num louco.
E na minha loucura, encontrei quer liberdade quer segurança ; a liberdade da solidão e a segurança de não ser entendido, pois aqueles que nos entendem escravizam algo em nós.
Mas que não fique eu muito orgulhoso da minha segurança : até um Ladrão numa cadeia está seguro de outro ladrão. "
Eu acho que que josef B devia sacudir a preguiça e escrever um livro. Estes são excertos dum email que ele me mandou. E quem presenteia assim os amigos, tem a responsabilidade imensa de se fazer chegar a mais gente.
1 comentário:
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