22 de fevereiro de 2007

a rainha de inglaterra e o bairro chinelo



há 50 anos, comemoram-se agora, a então jovem rainha de inglaterra entrava de rolls royce recentemente adquirido, pelo largo do palácio de queluz aninhado de gente arrebanhadamente limpa para receber tão ilustre visitante.
isabel juntava-se em portugal ao filipe que andava há uns meses fora de casa a passear pelo seu império.
o reencontro era o que hoje os jornais chamariam a visita do século (coisa que como sabem chamam a, pelo menos, 3 acontecimentos parecidos em cada 6 meses)

o salazar queria um visita sem mácula. tudo preparado até ao mais ínfimo pormenor.
a mistura do pitoresco com o monumental.
a imagem oficial dos pobres, mas limpos e honrados, e com um passado orgulhável.
os putos da escola primária de branco imaculado e bandeirinhas na mão a acenar na primeira fila. junto aos pides e à população de queluz.
em frente ao palácio fica o bairro chinelo, que era, juntamente com o 'senhor da serra' (no lado oposto de queluz, quase em belas) a mancha negra da aldeia (a vila viria mais tarde) e que, por isso mesmo, era necessário esconder dos reais olhos.


o bairro chinelo, ou mais pomposamente bairro conde almeida araújo por ter sido construído em terrenos cedidos por carlos almeida araújo (o tal conde..) nos primeiros anos da república.

se o nome oficial deriva do generoso ofertante, o nome oficioso vem dos seus primeiros habitantes terem sido artífices e do facto de um deles ter uma oficina de chinelos.
e ali nasceu mesmo em frente do republicano palácio, do outro lado do largo, com uma frente de 'vilas' que 'tapavam' as restantes pequeníssimas casas do bairro, resultantes de uma última oferta de terrenos do conde convertido à república.

a organização da visita tratou de, entre árvores transplantadas, sebes, muros e outros obstáculos visuais, esconder a vista do bairro que contrasta com o agora candidato às 7 maravilhas do portugal moderno.

a manhã da minha terça feira de carnaval foi passada por lá.
entre a chuva, as ruas e as pessoas.
como sempre desconfiadas perante o estranho e depois abertas ('o meu nome é zé ..., a minha casa é aquela ali.. volte com melhor tempo') quando digo que por ali andei na escola, que ali conheci os começos do 'desportivo', que por ali comi o meu primeiro gelado feito de cubo de gelo com uma mistura de xarope de laranja.



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uma das 'pontas' do largo central do bairro.
infelizmente a senhora que fez as obras de renovação da casa ao fundo, não viveu para a gozar.

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a 'fachada' fronteira ao muro do palácio e que foi escondida para que não fosse vista de fora

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a entrada do bairro, junto ao chafariz e à pousada/antiga escola

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