26 de março de 2010

Estóicos e epicuristas...

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(imagem: A Publicidade no Estado Novo)

Olhando para os dois cartazes separados por pouco mais de quatro décadas – o que são quarenta e tal anos em termos históricos? – chega a curiosidade do que seria uma leitura sociológica comparada.

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De modo simplista e sem qualquer pretensão, o primeiro associa-se de imediato ao «pobrezinhos, mas honrados». Quanto ao segundo, não se pode deixar de pensar em Epicuro: a vida é breve, há que vivê-la despreocupadamente procurando os pequenos prazeres do quotidiano. Da era das tabernas - não das cavernas - a exalar para lá da entrada o 'azedume' dos copos de três vertidos ao longo dos tempos sobre o balcão, às finíssimas wine shops de nome estrangeiro e com direito a versos de Pessoa na publicidade, não se resiste a pensar no percurso desde os idos sessenta do século passado até ao alvor do século XXI. Mil e uma questões se colocariam, mas fica-se por aqui sob risco de divagações a despropósito.

12 comentários:

Luísa disse...

Não suporto a ideia do "pobres, mas honrados", mas acredite que prefiro o primeiro cartaz. E não é pelo facto de ter um dito do F.P., poeta por quem nutro um grande ódio. Mas porque toda a gente se esquece de Portugal. Portugal é 'fashion' quando tem regiões com dois LL no nome, até parece que nós comemos a relva dos 'green' de 'golf', e tudo o resto continua a ser paisagem. Só que uma paisagem cada vez mais desértica. E como eu sou daquelas que não gosta de dar nada, mas também não gosta de receber nada de favor... acho que deveria haver mais gente a trabalhar e também mais gente a investir no que é nosso...

teresa disse...

Abrindo agora a caixa de correio para descarregar a minuta de uma acta (coisa estimulante), achei interessante o comentário da Luísa e não resisti a deixar algumas divagações não postadas:
1)- porque se não gosta de FP, tem todo o direito a proclamá-lo . Eu gosto e não é porque muitos o consagram, pois há escritores aclamados e premiados de cuja vasta obra só elejo um ou dois títulos. Considero que o poeta foi menosprezado em vida - não terá sido caso único - e tinha noção do seu valor, ou seja, era lúcido (entre muitos com estreiteza de vistas);
2)- quanto aos dois 'LL', ementas e jornais nacionais em estrangeiro, Eça chamar-lhes-ia algo de 'bacoco' (uma palavra com um vasto raio de acção);
3)- só para concluir e ainda sobre os vários 'LLL' destacaria - ainda dentro do género 'bacoco' (e não barroco) o facto de, há 3 anos, ter aberto na universidade desse reino do Sul um mestrado em campos de golfe, o que me deixou sem palavras (que é o mesmo que dizer, sem saber se devia rir ou chorar).

Luísa disse...

Ah! Eça o bacoco eos seus diminutivosinhos todos. Esse sim, sempre me apaixonou e esse sim... faz cá muita falta.
Essa dos mestrados do golf... é uma tentativa de passar um atestado de estupidez à minha (e não só) inteligência?!? Decididamente... estou cada vez mais satisfeita por viver na terra das vacas, mesmo sendo professora licenciada que chega a casa com os dedos encardidos da terra e da seiva das plantas...

J A disse...

Bem observado....em algumas décadas corre muita água no rio....
Mas aquela tradução do F.P....parece um pouco simplificada...?

teresa disse...

Luísa,

Acredito que seja bom viver nessa terra, embora só lá tenha estado de passagem e não com um trabalho como o seu, quanto mais não fosse, por causa dos chocolates maravilhosos:D... aspiro a um dia ser jardineira a tempo mais-do-que-parcial e compreendo que sê-lo diariamente com horário completo é versão realista e provavelmente dura, mas espero que goste do que faz.

teresa disse...

Júlio Amorim,

O que me pareceu foi estarem os versos descontextualizados, o que é uma forma de simplificação. Destaco um outro cartaz da loja com frase de um escritor holandês especializado em enologia (desconhecia-o), de nome Hubrecht Duijker: «A vida é curta demais para se beber maus vinhos».

gin-tonic disse...

Veio aqui só para ver como paravam as modas, estão variadas, mas nesta, se não tivesse que arrancar para a “catedral”, gostaria de se demorar. Pelo vinho, pelo Pessoa, também pelos chocolates.
Gosta de tabernas e não de wine shops, gosta do vinho directo do lavrador – em vias de extinção, os lavradores – e não de vinho de laboratório, gosta do Pessoa, principalmente o lado Álvaro Campos., gosta de chocolate, belga, suíço, alemão, português, qualquer, branco, negro, de leite, até os come fora dos prazo de validade que é coisa a que pouco liga porque no tempo dele não havia dessas modernices. Gosta da Juliette Binoche , e não só por ter entrado num filme, “Chocolate” de seu nome.
Mas tem mesmo de arrancar para a Catedral. A missa é às 20,00 , mas há os preliminares que sempre levam o seu tempo.
Vinhos, chocolates – misturas explosivas…
A gerência não se responsabiliza pelas quedas que os bêbados derem!

Luísa disse...

Sou, Teresa, sou muito feliz com o que faço. Se assim não fosses já teria procurado outra coisa qualquer. Só desejo vir a ser tão feliz como professora como sou como auxiliar de jardineira (estatuto que não sabia que tinha até ler a primeira edição da revista da empresa!). E também espero que toda a gente seja, ou procure ser, feliz com o que faz.

Anónimo disse...

Qualquer deles, mistificação.

Num, a subliminar mensagem bíblica: o pão e o vinho da comunhão, a dádiva, e o subjacente e casto Messias.

O segundo, pós-moderno: versos descontextualizados (se é que não são totalmente forjados), a visão já turvada do copo que afinal... é Arte. Beber vinho é ser culto, é o que é - sumamente culto.

Qualquer desculpa é boa para a embriaguez, seja a caridadezinha do Estado que amámos antes de abominarmos, seja o turvamento artístico a que chegámos. Pois se até a fealdade dos tachos pode ser Arte, e da Boa, e qualquer um pode ser Fernando, sendo já pessoa.

teresa disse...

Não sendo benfiquista, não sou fundamentalista... e o jogo promete... a equipa do Norte também se tem portado bem. Que seja um bom espectáculo, gin:)

teresa disse...

Que tudo se venha a concretizar, Luísa. Eu também aspiro a ser jardineira (em versão lúdica), mas gosto muito da sala de aula, sinto sempre aquele desafio cada vez que começa mais uma lição. E ontem comemorámos uma centésima aula, com uma simpática aluna cuja família tem uma pastelaria na Cova da Moura a oferecer-nos um enorme bolo barrado a chocolate com os dizeres «parabéns à centésima lição», quando me pediu licença para colocar as velas, até tremi a pensar que iria colocar 100, o que já não nos deixaria tempo para saborear o bolo... mas utilizou velas com algarismos, e ainda bem:)

teresa disse...

Comentário lúcido e acutilante, caro Anónimo: palavras e argumentos 'na mouche'.