Hoje chove

Carregada como um burro, seguindo a sequência da Teresa, tento desviar-me dos pontiagudos guarda chuva com que as pessoas tentam agredir as outras com ferocidade pouco natural. Eu nunca os uso e ajoujada, até meto os pés dentro das poças de água.
Lembro-me de quando era pequena a minha mãe insistia em vários preceitos: beber leite de manhã, pôr-me um gorrinho na cabeça ou um lencinho azul com um pato na ponta,usar camisola interior e levar sempre que necessário guarda chuva. Não foi bem sucedida, é a vida. E eu desde essa altura deixei de gostar de azul, embora conserve um gorrinho branco que a minha mãe me fez.
Quanto a escrever caro Gin, isto tem que ser de vontade ou é uma grande seca fazê-lo, tipo usar guarda chuva e enfiá-lo nos olhos dos outros. O ar triste do indiano de baixo quando me viu passar com os sacos do Pingo Doce e me cumprimentou afavelmente fez-me descer e ir lá comprar fruta e outras coisas. Apesar do nosso diálogo ser de surdos, porque ele não sabe português e eu não sei paquistanês. No entanto têm produtos óptimos para quem gosta de inovações asiáticas na comida.
E como sou prática, peço aos adivinheiros que se notarem que os preguiçosos dos adivinhadores demoram muito tempo a acertar, vão dando as soluções e despachem o assunto.
Fotografia: Inundações em Lisboa, 1945, Judah Benoliel