...um grupo de jovens adolescentes do funchal comprava o título '"o comércio do funchal", um pequeno jornal de reduzida tiragem, ao seu proprietário.
consta que primeiro compraram o jornal e só depois se questionaram sobre o que deveriam fazer com ele.
fosse como fosse, aquele janeiro de 1967 marcou uma página importante na história da imprensa em portugal.
o pequeno jornal cor-de-rosa era uma espécie de código visual que nem sempre se manifestava prudente.
uma tarde ali por 1972 (se a memória não me falha), tinha acabado de comprar o 'cf'' na tabacaria da esquina da almirante reis com a febo moniz, de regresso da tipografia do regueirão dos anjos onde era impresso o jornal onde então trabalhava, quando perto do chile me cruzo com uma manifestação (julgo que do mpac, movimento popular anti colonial, ligado ao mrpp) e, na antónio pedro, com o célebre capitão maltês.
mesmo não vindo eu dos lados da manifestação (era na praça do chile), o facto de vir a ler o 'cf' enquanto andava deu-me direito a uma marretada do 'himself' maltês.
garanto que fiquei surpreendido porque não sabia que havia manif naquele local àquela hora (e onde seguramente não participaria por ser demasiado perto do meu local de trabalho (era demasiado conhecido no local para me arriscar daquela maneira).
mas a verdade é que o jornal cor de rosa era um símbolo por aqueles tempos.
ao tempo, tinha começado uma 'geração' de pequenos jornais que, aproveitando o facto dos censores 'regionais' não estarem tão bem informados como os da central de lisboa, conseguiam ter uma série de artigos de opinião (quase não tinham notícias, de facto) que muito dificilmente conseguiriam passar num jornal nacional publicado em lisboa.
por esses jornais passaram alguns nomes hoje muito conhecidos em muitas áreas, outros que desapareceram com o tempo.
se o jornal do fundão teve muita importância para exprimir o que ao tempo chamavamos a oposição republicana, o comércio do funchal abriu brechas por caminhos que nunca se tinham visto na imprensa portuguesa.
digamos que a imprensa 'regional' oposicionista tinha 3 vectores (ou polos 'orientativos') jornalísticos: o jornal do fundão, ligado à 'oposição republicana', o 'notícias da amadora', ligado à cde e por vis deste ao pcp e o comércio do funchal que aglutinava toda a esquerda à esquerda do pcp.
nas revistas a coisa era um pouco mais simples: de um lado a 'seara nova' e toda a intelectualidade ligada ao pcp, do outro 'o tempo e o modo' que depois de alguns anos ligado à editora moraes e aos católicos progressistas, passou para as mãos do mrrp.
e nomes como o 'jornal do centro' (de algum modo ligado à ocmlp), o 'opinião' (mais próximo do pcp) ou até o musical 'memória de elefante' (entre os anarquistas e alguma extrema esquerda 'generalista') facilmente se identificam dentro destes vários núcleos.
pelas páginas do comércio do funchal passaram nomes como joão carlos da veiga pestana, vicente jorge silva, josé manuel barroso (não o durão), antónio mega ferreira, artur pestana andrade, ricardo frança jardim, luís angélica, victor rosado, josé agostinho baptista, josé manuel coelho, leopoldo gonçalves, josé antónio mendonça e freitas, fernando dacosta, liberato, mário vieira de carvalho, antónio dos santos, antónio sampaio, josé maria amadora, mário coelho, l. h. afonso manta, carlos marinheiro estes dois igualmente do jornal do centro), jorge lima barreto, raul maurício, josé freire antunes, antónio josé fonseca, josé duarte, matilde rosa araújo, josé antónio saraiva (sim, esse...), josé agostinho baptista, nuno rebocho, josé antónio barreiros (o agora famoso advogado).
pelas páginas do 'cf' passaram grandes discussões teóricas que hoje nos podem parecem absurdas ou risiveis.
mas naquele tempo, o dia da saída semanal do 'cf' era um dia de leitura farta e boa
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