10 de junho de 2005

Al Berto ou afinal o medo de existir

Há uma cidade a rebentar na humidade vertiginosa da noite
e um homem com olhar de açúcar encostado ao néon melancólico das esquinas
espera o próximo shoot de heroína ...
há uma cidade por baixo da pele e uma casa de sangue coagulado na memória atravessada por canos rotos e um corpo pingando mágoas... há uma cidade de alarmes e um tilt lancinante de flipper dentro do meu pulmão adolescente e uma dor de chuva fustigando o sexo adormecido no soalho do quarto de pensão... há uma cidade de visco e de esperma ressequido e uma pastilha elástica presa ao fundo dum copo... há um sorriso e um engate e um camóne e um arrebenta e uma boca de lodo aberta sobre o rio... há uma cidade de fome e lixo enquanto o ciúme escorrega das mãos dos amantes... há um dedo de lâminas usadas e um beco sem saída onde se enroscou um puto e um cão de febre... há uma cidade crescendo no grito e na gasolina no fogo nocturno da minha vertigem presa nas alturas de cimento armado onde coabitam sexos mergulhados em naftalina... há um osso branco que perfura a insónia ea madrugada e esta cidade de nojo e de fascínio... há uma navalha cortando o betão das avenidas e um pássaro de enxofre nas feridas duras dos cabelos... há uma cidade de estátuas desmanteladas contra o espelho dum bordel e a luz do teu olhar dentro duma janela antiga... há uma cidade que se escapa para fora da noite espia avança e mata... há uma cidade de trapos queimados e de vozes ardendo e uma toalha para limpar o sono dos poucos brinquedos... há uma alucinação furiosa que me incendeiaa veia e revela teu rosto lívido que se suicida... há uma cidade de papel engordurado que eu amachuco com o pânico nos dentes e todo o meu corpo sangra... treme... e tem medo... e morre...

Sem comentários: