8 de fevereiro de 2005

Raciocínio Contrafactual e Hipotético

E se os Beatles nunca tivessem existido? Como seria a música pop actual? Provavelmente seria muito mais pobre do que já é. Bem, a música pop actual é pobre e repetitiva precisamente porque durante os anos setenta e, sobretudo, durante os oitentas houve dois grupos importantíssimos e extremamente criativos que não chegaram a existir (isto em parte porque eu não me dedicava à música nesses tempos, nos setentas era mais cagar fraldas de pano e nos oitenta era mais telenovelas brasileiras). A importância que os Beatles têm ainda hoje é mais ou menos equivalente à importância desses dois grupos que não chegaram a existir e cuja falta é tão sentida e à qual se deve uma porção não negligenciável do repetitismo da música pop actual.

Gosto muito dos Beatles. Gosto de todos os períodos deles. Gosto muito daquela fase inicial, básica e primária, em que os rapazes “só faziam era barulho” e cantavam Love, Love Me Do, La La La La La La La Lah... with love from me to you, She Loves You Yeah Yeah Yeahhhhh, I Wanna Hold Your Hand and so on. Depois ficaram um bocadinho mais elaborados e menos ingénuos (Can’t buy me love). Gosto daquele cheirinho a classe trabalhadora (It’s been a hard day’s night) e daquele romantismo despreocupado e leve (I’m in Love with Her and I Feel Fine, Eight Days a Week). Também gosto daquela melancolia de final de Verão (She’s got a ticket to ride) e dum certo desespero ao chegar à idade adulta (Help!).

Depois a coisa fica séria: Yesterday, isto são já sentimentos fortes e profundos, daqueles que deixam marcas e alteram vidas, factos e maneiras de ser.

O imaginário associado a Day Tripper fascina-me. Cfr. assunto da prostituição (ou melhor, das prostitutas), não sei bem porquê e Femme Fatale (Brian de Palma se calhar).

A vida de casado aborrece-me. É por isso que não serei (We can work it out). O problema deve ser sempre o mesmo: por um lado aquela pressão esquerdista para fazer de duas vidas um colectivo de vida, por outro aquela pulsão de direita de ser independente e decidir tudo sozinho e que os outros (ou a outra) me siga se quiser, se não quiser ao menos não chateie muito.

Depois, as canções começarão a ter secção de sopros, outras terão som de rock, outras serão mais elaboradas. De um modo geral, são sempre todas muito originais, muito diversas e sempre com muita qualidade e ou com muita atracção.

Os Beatles são excelentes. Para a música pop, os Beatles são perfeitos. E os Beatles são eternos (isto é que é um cliché apropriado!).

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