14 de janeiro de 2005

Distraimento

Apanhei um táxi, como faço todos os dias para chegar ao trabalho.
Todos os dias um taxista diferente, ou quase sempre, e uma história nova de vida para contar.
Hoje era um senhor que ouvia uns fados, que que falavam da Tininha que morava na Graça, coitadinha. Perguntei-lhe quem cantava. Ele contou-me uma longa história. Tinha comprado duas cassetes das boas, as virgens a menina sabe , para os filhos do dono do café onde vai lhe gravarem. Como são preguiçosos, a mãe ofereceu esta cassete para colmatar a omissão dos filhos.
E explicou-me "Sabe menina, isto para mim é um distraimento. Desde que a minha senhora morreu faz dois anos, uma hora do dia para mim dura quatro horas a passar. Estivemos quarenta anos juntos. Mas não foi muito tempo, sabe, passou a correr".
Então todos os dias aquele senhor ouve as cassetes e lembra a mulher. Há outra canção que ele ouve da Mónica Sintra, que era a favorita dela. Mas, o táxi chegou ao destino e não houve tempo, para me contar qual era essa canção.
E eu retive o distraimento. Uma palavra nova para o meu imaginário e uma forma de lidar com a palavra saudade.

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