Crónica de Pacheco Pereira no Público aqui.
Então começa por criticar, e bem, que se chore a eliminação estudada do líder do Hamas, estudada para minimizar as perdas colaterais, enquanto que se ignora vergonhosamente a morte à queima roupa de uma mãe e filhas israelitas por terroristas palestinianos e, ao mesmo tempo, parágrafos abaixo, vem dizer que as torturas que os americanos infligiram aos prisioneiros de guerra iraquianos em Abu Ghraib são completamente diferentes das torturas levadas a cabo pelos guardas prisionais iraquianos no regime de Saddam?
Duplicidade de critérios é imoral, mas ser dúplice não em artigos diferentes mas numa mesma crónica, fazer uma crítica correcta num parágrafo e, mais abaixo, sem dar por isso, retirar a legitimidade ética a essa crítica por utilizar o mesmo critério anteriormente denunciado - é imoral e descarado!
É isto a hipocrisia e a absoluta ausência de imparcialidade política, ética e intelectual: criticar a duplicidade de uns enquanto que descaradamente se defende a duplicidade própria.
A propósito, qual é a diferença entre as torturas que os americanos realizaram em Abu Ghraib e as que realizam em Guantanamo? Será que é que umas são realizadas sob autorização administrativa enquanto que as outras resultaram da iniciativa privada? Ou será que é que as torturas de Guantanamo têm o objectivo nobre de obter informações preciosas sobre práticas terroristas, enquanto que as de Abu Ghraib são só "for the fun"?
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