A minha avó morreu. Morreu há quase um mês, bem pertinho da páscoa.
Depois daqueles momentos iniciais, quase irreais, em que tudo se passa como se fosse um sonho esquisito, voltei cá para baixo, para longe de casa e tudo pareceu que tornou à normalidade.
Hoje, quando telefonei à minha mãe para lhe dar os parabéns, e um grande beijo, percebi, no meio de uma voz triste, que eu tinha a sorte de ter uma mãe para dar um beijo.
É que a minha avó morreu, e a normalidade nunca mais será igual ao que era.
Nunca mais a vou visitar, para lhe dar um beijo e dizer olá avó, como está. Para falar das maleitas e passar as receitas do costume
Nunca mais a vou ver, sentada no sofá, pequenina, a fazer renda ou a chorar com as novelas.
Nunca mais a vou ouvir contar as histórias do meu bisavô ventura, da fábrica da electricidade e da quinta do Reguengo.
Nunca mais a vou escutar a falar da casa dos três cheiros, da casa das três janelas e dos três doentes.
Nunca mais vou ter avó...
E foi assim que descobri a razão para hoje ter sido um dia feio, cinzento e molengão, cheio de uma chuva pegadiça.
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